terça-feira, 19 de julho de 2011

Confissões de uma Histérica

Nossa tão sonhada e planejada viagem de oito dias à Itália começou com o pé direito. Na verdade, com os dois pés. E na sala VIP para viajantes frequentes portadores do cartão fidelidade de platina. Graças ao meu marido, ter acordado às cinco horas da manhã para pegar um táxi e ir até o Terminal 1 do Heathrow valeu muito a pena, e não custou nenhuma das quase 19 libras cobradas por cada pessoa que deseja desfrutar desta sala, sem o tal cartão.

Para ser sincera, tudo o que dependeu do planejamento e da realização antecipada dele saiu com perfeição. Não houve correria de última hora para comprar passagens de trens, não houve supresas desagradáveis nos hotéis reservados, não houve um dia em que ele não gastasse uma boa quantia numa refeição requintada a três.

Mas o calor de 38º do verão italiano (inusitado para quem mora na Inglaterra há 17 meses) foi o suficiente para estragar meu humor...

Em realidade, ele foi apenas mais um pretexto para meus rompantes de cólera contra qualquer incômodo, desde o preço exorbitante de seis raviólis de espinafre e ricota e de uma piadina com tomate e maionese até a falta de civilidade dos garçons italianos! E o que parecia uma qualidade um pouco exagerada de uma típica leonina (a de reagir dramaticamente a qualquer pequeno infortúnio), provou ser a neurosa mais investigada de Sigmund Freud, a histeria. E lá estava eu, gritando palavrões horrendos em inglês para o meu marido nas ruas de Milão, de Florença, de Pisa e pelos canais de Veneza!

Pois é... Desde a adolecência, eu já apresentava o sintoma clássico da histeria dissociativa: o de sentir os estímulos que aconteciam ao meu redor com muita intensidade. Mas foi só em 2005, quando passei da condição de turista a residente legal da Índia, que o quadro se agravou: quando comecei a trabalhar no país e a lidar, diretamente, com a ineficiente burocracia estatal, com os funcionários corruptos do departamento de imigração, com o calor insuportável de Chennai e as monções torrenciais de Bangalore, com o tráfego infernal e a poeira persistente... Enfim, quando meu primeiro ano de paixão intensa pela Índia se transformou em uma relação menos baseada na magia da cultura local e eu percebi todos os problemas diários que uma mulher estrangeira precisava enfrentar naquele país. Com o agravante da minha neurose!

E, assim, faz seis anos que minhas explosões de mau humor aumentam de maneira inversamente proporcional ao pavio da minha paciência! Como fazer, todos os dias, uma tempestade num copo sempre cheio de água.

E, hoje, não sei se é por eu estar num outro país estranho (sem a família e com pouquíssimos amigos por perto para conversar!), casada com uma pessoa tão diferente de mim, cuidando praticamente sozinha da minha menina e de uma casa de dois cômodos e só conseguindo trabalhar de madrugada (quando ela já está dormindo), mas o fato é que tenho tornado a vida de nós três numa crise neurótica constante de gritos insanos e desproporcionais por qualquer mudança mínima de planos ou até de temperatura.

E são as pessoas que mais amo neste mundo as que mais sofrem!