Não consegui traçar a origem exata desta tradição, mas meu palpite é que o baile de debutante (ou "the coming-out party", em inglês) tenha raízes tão remotas quanta a mais antiga das monarquias européias, a Família Real Dinamarquesa. E essa ligação fica mais evidente quando se descobre que o costume de apresentar, formalmente à sociedade, as jovens da nobreza em idade de casar era tão importante em algumas cortes (como a londrina do século XIX) que marcavam o início da temporada social daquele país.
Com o passar dos anos, no entanto, a prática foi perdendo prestígio e significado até perder, por completo, o apoio da Rainha Elizabeth II e ser abolida dos salões reais da Grã Bretanha em 1958.
E, apesar de ainda persistir em ciclos menos nobres da sociedade de diversas partes do mundo, o outrora importante baile deu origem linguística a outro fenômeno social mais contemporâneo. "Coming-out of the closet" se tornou uma figura de linguagem para as minorias que assumíam, publicamente, uma diferente orientação sexual ou identidade de gênero.
E tudo começou em 1869, quando o alemão Karl Heinrich Ulrichs defendeu, pela primeira vez na História, os direitos dos homossexuais e pregou a ideia de "sair do armário" como uma forma de emancipação e de mudança na opinião pública.
Quase 150 anos mais tarde, o movimento ainda está em sua infância e muito ainda precisa ser feito para se alterar antigos preconceitos e difundir o slogan de que "gay is good".
E parece que o maior obstáculo sempre começa em casa, num ambiente familiar rigoroso.
Não importa muito se a questão é sexual, religiosa ou relacionada com a cultura, tudo o que é diferente e se opõe ao modo de pensar e de agir daquele determinado grupo de pessoas acaba virando tabu (e uma batalha pessoal a ser travada).
A minha começou três anos atrás, no dia em que entrei para uma nova família pelas portas do casamento e passei a fazer várias coisas (como deixar o cabelo crescer), para ser aceita entre os membros da religião do sikhismo. E lá se foram mais de mil dias da minha vida tentando me encaixar num armário pequeno demais para conter minhas largas medidas de liberdade e ousadia.
Até o 23 de agosto, quando as longas madeixas de mulher (praticamente) indiana deram lugar aos curtos fios da tomboy brasileira.
Foi um alívio pôr fim ao fingimento.
Foi uma alegria redescobrir minha identidade e rever meu redemoinho.
Foi muito bom voltar.
Mas ainda não saí do armário.
Meus sogros ainda não viram minha drástica mudança capilar e ainda não tive meu baile de debutante para ser devidamente apresentada à sociedade Sikh. O que eles conhecem é a grávida de cinco meses que se converteu e se casou às pressas, fazendo um monte de promessas incabíveis num idioma que não entendia, só para dar um pai à criança que esperava.
Está na hora de eles terem um encontro com a gaúcha de 37 anos que nasceu acidentalmente no Rio; vegetariana; católica nada-praticante; ex-jornalista; diarista da família em tempo integral e mãe da neta deles (que carrega metade dos meus genes e da minha cultura).
Está na hora de esses seguidores do sikhismo (cujas escrituras sagradas "enfatizam o princípio da igualdade de todos os seres humanos e rejeitam a discriminação por sexo, casta e credo) provarem que o diferente também é muito bom.
Com o passar dos anos, no entanto, a prática foi perdendo prestígio e significado até perder, por completo, o apoio da Rainha Elizabeth II e ser abolida dos salões reais da Grã Bretanha em 1958.
E, apesar de ainda persistir em ciclos menos nobres da sociedade de diversas partes do mundo, o outrora importante baile deu origem linguística a outro fenômeno social mais contemporâneo. "Coming-out of the closet" se tornou uma figura de linguagem para as minorias que assumíam, publicamente, uma diferente orientação sexual ou identidade de gênero.
E tudo começou em 1869, quando o alemão Karl Heinrich Ulrichs defendeu, pela primeira vez na História, os direitos dos homossexuais e pregou a ideia de "sair do armário" como uma forma de emancipação e de mudança na opinião pública.
Quase 150 anos mais tarde, o movimento ainda está em sua infância e muito ainda precisa ser feito para se alterar antigos preconceitos e difundir o slogan de que "gay is good".
E parece que o maior obstáculo sempre começa em casa, num ambiente familiar rigoroso.
Não importa muito se a questão é sexual, religiosa ou relacionada com a cultura, tudo o que é diferente e se opõe ao modo de pensar e de agir daquele determinado grupo de pessoas acaba virando tabu (e uma batalha pessoal a ser travada).
A minha começou três anos atrás, no dia em que entrei para uma nova família pelas portas do casamento e passei a fazer várias coisas (como deixar o cabelo crescer), para ser aceita entre os membros da religião do sikhismo. E lá se foram mais de mil dias da minha vida tentando me encaixar num armário pequeno demais para conter minhas largas medidas de liberdade e ousadia.
Até o 23 de agosto, quando as longas madeixas de mulher (praticamente) indiana deram lugar aos curtos fios da tomboy brasileira.
Foi um alívio pôr fim ao fingimento.
Foi uma alegria redescobrir minha identidade e rever meu redemoinho.
Foi muito bom voltar.
Mas ainda não saí do armário.
Meus sogros ainda não viram minha drástica mudança capilar e ainda não tive meu baile de debutante para ser devidamente apresentada à sociedade Sikh. O que eles conhecem é a grávida de cinco meses que se converteu e se casou às pressas, fazendo um monte de promessas incabíveis num idioma que não entendia, só para dar um pai à criança que esperava.
Está na hora de eles terem um encontro com a gaúcha de 37 anos que nasceu acidentalmente no Rio; vegetariana; católica nada-praticante; ex-jornalista; diarista da família em tempo integral e mãe da neta deles (que carrega metade dos meus genes e da minha cultura).
Está na hora de esses seguidores do sikhismo (cujas escrituras sagradas "enfatizam o princípio da igualdade de todos os seres humanos e rejeitam a discriminação por sexo, casta e credo) provarem que o diferente também é muito bom.