Ele foi levado à Índia ainda no tempo do Império Britânico, em 1880, para servir à corte inglesa na cidade de campo para a realeza, Simla. E, em poucas décadas, espalhou-se por todo o Sub-continente. Em Calcutá (antiga capital indiana), foram comerciantes chineses que solicitaram do governo a permissão de usá-los para o transporte de mercadorias, primeiramente, e de pessoas, logo a seguir.
Os anos se passaram e os rickshaws foram se modernizando (ou quase todos, pois ainda hoje é possivel ver homens esquálidos carregando qualquer coisa nessa anacrônica bicicleta de três rodas) e incorporando motor e taxímetro, que serve mais para decoração do que para medir a distância percorrida pelo veículo.
E a explicação para esta prática é que, desde que a Índia conquistou sua independência em 1947, o governo diminuiu o número de licenças para operá-los. Assim, oficialmente, há alguns milhares deles no país, mas na caótica e ilegal realidade urbana, há milhões trafegando por todo o território indiano. O pior é que boa parte do dinheiro que os motoristas fazem num dia vai para as propinas dos policiais não os tirarem das ruas.
Mas, sinceramente, sem eles a Índia perderia um pouco da sua identidade. Talvez nada seja tão pitoresco que a longa discussão entre motorista e passageiro a respeito do preço a se pagar. E podem apostar que eles sempre começam pedindo o dobro do que é justo. E se uma das partes não está satisfeita com o valor final, vê-se o motorista fazendo gestos e amaldiçoando o cliente perdido e o passageiro abordando outro rickshaw wallah. Minha lógica é bem simples: sempre há dezenas deles em cada esquina e, mais cedo ou mais tarde, alguém aceita o meu preço.
O que é impagável são os divertidíssimos episódios que já passei dentro desses veículos, como minha segunda mudança em Chennai, em que consegui colocar três malas cheias, dois baldes com produtos de limpeza e uma vassoura, além de mim mesma e outra acompanhante, num espaço que não devia ter 2 metros quadrados. Sem falar no meu colchão de algodão de 18 quilos amarrado com um barbante na parte superior do carrinho, que vim segurando durante todo o tortuoso caminho! Tudo isso porque o motorista foi ganancioso e não quis dividir o dinheiro que eu ofereci por dois rickshaws.
A escolha, ao se pegar um rickshaw em tais condições, é voltar para casa menos ensopado que fazendo o mesmo caminho de ônibus ou a pé.