quinta-feira, 9 de junho de 2011

Admirável Mundo Verde

Até sete anos atrás, eu não acreditaria se alguém me dissesse que existia sabor fora do mundo dos carnívoros.

Sendo uma ovo-lacto-vegetariana desde os 16 anos, passei mais de uma década no Brasil numa monótona dieta de "qualquer coisa" com queijo, além de ter minhas opções cerceadas a um canto afastado nos restaurantes brasileiros (de preferência perto dos banheiros, pois quem está interessado em comer alface numa churrascaria?) ou a cardápios pouco atraentes nos estabelecimentos comerciais para essa crescente minoria (por que a comida integral tem que ser tão insossa no locais "verdes"?)

Até que, em 2004, descobri um universo fantástico e altamente explorado de refeições sem carne nem peixe...
Na Índia, é claro. Na terra onde o vegetarianismo é tão sagrado quanto o próprio Hiduísmo e onde os sacerdotes da casta mais elevada dessa religião, os Brahmins, não podem comer nem ovo para realizar seus rituais nos templos hindus; na cultura que despreza tanto os carnívoros que tem senhorio (especialmente na parte dravidiana do país) que não aluga sua propriedade para não-vegetarianos!

E foi nesse canto do mundo que descobri como um simples arroz branco ganha novo sabor só com um pouco de sementes de cominho; que uma sopa-creme de cenoura se transforma com a adição de gengibre; que beringela e espinafre podem ser saborossímos quando contêm um pequeno pedaço de pimenta; que lentilhas podem ser tão coloridas quanto um arco-íris e não precisam ficar restritas à última refeição do ano.

E mesmo para os que possuem um estômago mais sensível e não toleram muito bem uma comida picante, não é difícil de se encontrar ótimas receitas sem carne. Desde março, quando voltei da minha mais recente visita à casa da sogra (e pude ver meninas com pouca educação prepararem delícias a partir de ingredientes básicos), decidi que não é preciso ser um PhD para ter algum domínio sobre a arte da gastronomia, e literalmente coloquei minhas mãos na massa.

Em cerca de três meses, aprendi a fazer o queijo (paneer) e os pães (chapati e parantha) indianos como se fosse uma nativa e, então, comecei a explorar novos territórios de outras culinárias mais refinadas. Aos poucos, fui descobrindo como também é possível ser extremamente original com comidas já consideradas tradicionais.

Os colonos italianos do sul do Brasil, por exemplo, ficariam surpresos de ver sua polenta grelhada e servida com molho à base de vinagre balsâmico e cogumelos, raspas de queijo parmesão e rúcula! Outros ficariam perplexos em comer torradas com queijo roquefort e pêras grelhadas com azeite e mel!

Delícias que me fizeram perceber como muitos de nós crescem com um tipo de alimento e não imaginam (nem tentam imaginar) que há várias e igualmente saborosas maneiras de comer a mesma coisa. Como um persongem saído das páginas de Aldous Huxley, condicionado biológica e psicologicamente a viver de acordo com as regras (e comidas) de uma sociedade. Mas não fui a única a perceber isso. Até minha sogra ficou deliciada quando experimentou meu molho pesto pela primeira vez em seus 58 anos de muita pimenta e pouco alho. E pediu a receita! E talvez venha a pedir outras.

Porque, para explorar o admirável mundo verde, não é preciso ser bravo. Basta ter fome por boa comida e um estômago aventureiro!

 

Um comentário:

Ana Dos Santos disse...

cherri, quando vieres à Porto Alegre, vou te levar á ótimos restaurantes vegetarianos, (indianos também)!