sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Presto - Ma non troppo

Fazia mais de dois anos que eu não saía sozinha para assitir a uma atividade cultural.

Desde que minha menina nasceu, já fomos os três ao circo, ao teatro, ao aquário, a uma fazenda, a um safari e até à Itália juntos! Mas, em 24 meses, duas semanas e 3 dias, essa foi a primeira vez que saí, sem filha nem marido, para ver um concerto de música clássica: The Four Seasons by Candlelight, um espetáculo suntuoso com a Orquestra Mozart Festival usando perucas e trajes típicos do século XVIII.

Nem no primeiro, muito menos no segundo aniversário dela (celebrado pouco tempo atrás), eu coloquei um vestido tão fino, maquiagem, joias (impossível perto dela) e pintei as unhas dos pés! Tudo para apreciar, por 180 solitários minutos e à luz de pequenas lâmpadas que pareciam velas, a obra mais popular e executada de Antonio Vivaldi.

Foram mais de 30 libras por um lugar bem no meio e a dez filas distantes do palco e, assim que me sentei no assento 23J, me deparei com uma onda de cabeças brancas à minha frente. E à minha direita. E à minha esquerda! Onde quer que eu olhasse, só via pessoas de meia e terceira idades. Algumas inclusive de bengalas, cadeiras de rodas e com enfermeiros de prontidão. Eu nem tirei o casaco! E a fila para o banheiro durante o intervalo estava um horror!

Talvez meu gosto musical seja um pouco antiquado ou é a consciência do tempo também passando para mim. Ou as duas coisas. O fato é que eu nunca realmente havia me preocupado com o número de primaveras que havia vivido, até dar à luz a uma linda menina na minha 34ª, em novembro de 2009. Foi quando eu percebi que, no momento que ela atingir o auge de sua beleza, aos 21 anos, eu vou estar com 55!

Não sou uma entusiasta das cirurgias plásticas para puxar aqui e ali, mas já comecei a usar meu primeiro creme antirrugas e, em breve, vou estar remexendo nas prateleiras da secção geriátrica de famárcias e supermercados, em busca de ofertas nos kits vitamínicos para amenizar os sintomas da menopausa e evitar osteoporose.

Já me sinto como no terceiro movimento do Concerto No. 2 em Sol menor das Quatro Estações. É verão e, de acordo com a interpretação do compositor italiano, uma tempestade se aproxima de maneira muito rápida (presto) para dar fim a esse período do ano e iniciar o outono da minha vida.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

730 e outras razões

Não é fácil explicar um sentimento.
Podemos até descrevê-lo com palavras empoladas e superficiais, mas a menos que consigamos senti-lo com cada batida de nosso coração, não compreenderemos completamente seu significado. O amor, por exemplo, é definido como uma "grande afeição por outra pessoa". Ele pode surgir de repente, à primeira vista, como um lampejo de afeto, mas se essa afeição não for nutrida por pequenos e repetidos gestos, provavelmente nunca vai se tornar grande e real.

Quando minha filha nasceu, eu senti, instantaneamente, essa incrível manifestação de amor por aquele diminuto e delicado ser. É uma das mais inteligentes estratégias da natureza para que cuidemos dessas criaturinhas frágeis logo ao nascerem, porque elas, basicamente, só comem, dormem, fazem cocô e xixi. E choram. Umas mais do que outras, mas todas choram nos primeiros meses de vida (ou ano, quando os dentes de leite começam a rasgar as gengivas e elas voltam ou continuam a chorar).

Ou seja, o começo da maternidade não é muito fácil e há bastante razões para qualquer mulher que sempre sonhou com um filho perder a paciência e a sanidade e "abandoná-lo"... Numa creche, com os avós ou com uma babá.

Mas é aí que a natureza entra em cena mais uma vez, fornecendo aqueles pequenos e repetidos gestos para a paixão inicial da mãe agora cansada de amamentar, de trocar fraldas sem-fim e de noites mal-dormidas se transforme em amor: são olhares e sorrisos intencionados e dirigidos para a progenitora, além de várias outras formas de expressar carinho que são únicas de cada bebê.

Eu amo a minha filha quando ela aperta minha bochecha ou meus polegares, enquanto toma a mamadeira.
Eu amo a minha filha quando ela enrosca as pernas na minha cintura, enquanto está nos meus braços.
Eu amo a minha filha quando ela vem de mão estendida me chamar para dançar na sala.
Eu amo a minha filha quando ela olha para algo novo e abre ainda mais seus imensos olhos castanhos cheios de surpresa.
Eu amo a minha filha quando ela aprende uma palavra nova e a pronuncia ou gesticula à sua maneira.
Eu amo a minha filha quando ela caminha ao meu lado, segurando meu dedo indicador com toda sua mãozinha.
Eu amo a minha filha quando ela se vira de barriga para baixo na sua banheira, desfrutando um delicioso banho de espuma.
Eu amo a minha filha quando ela, brincando com outras crianças ou adultos, vira a cabeça e me procura com seu olhar.
Eu amo a minha filha quando ela vem na minha direção com braços abertos e um sorriso de puro amor e me beija e abraça...

Bem, eu não estava contando, mas acho que já foram mais de 730 deles nesses mais de 730 dias que ela entrou na minha vida. E, por falar nisso, eu amo a minha filha por ter adicionado o mais bonito dos substantivos comuns ao meu mundo: mamãe.

Eu amo a minha filha por ter me tornado sua mãe, pois foi com o Amar que eu concebi o amor da minha vida.

E, apesar dos momentos de muito choro, birra, pirraça e teimosia, eu já sinto uma grande afeição por essa pessoa! Ou como o amor foi definido por Freddie Mercury, com palavras genuínas e profundamente sentidas: 
I was born to love you
With every single beat of my heart
Yes, I was born to take care of you
Every single day of my life

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O Olho do Céu

Para algumas mulheres, a vida realmente começa depois que elas arranjam um emprego, deixam a casa dos pais (ou do ex-marido!) e passam a ter plena liberdade para viver da maneira como desejam, não importa a idade. Outras são levadas a acreditar que é a partir dos 40 e poucos anos (quando as inibições e inseguranças da juventude foram vencidas, os filhos já estão grandinhos e elas têm mais tempo para si mesmas) que podem usufruir das próximas quatro décadas à sua frente (ou mais!).

Mas há ainda as mulheres que apostam todas suas fichas no matrimônio. Aquelas que sonham com vestido de noiva, madrinhas, lista de convidados, e passam anos à procura do homem certo para iniciar uma vida a dois. Me lembram um pouco das personagens de Kate Hudson (Liv) e Anne Hathaway (Emma) em Noivas em Guerra (Bride Wars) de 2009, ao se sentarem diante da ilustre planejadora de casamentos Marion St. Claire (interpretada por Candice Bergen) e ouvirem que estavam mortas até aquele instante, que suas vidas só começariam depois de trocarem alianças e alcançarem o status de "mulheres casadas".

Não importa muito em que categoria nos identificamos, o fato é que o sexo feminino tem, culturalmente, esperado por um agente externo para desencadear seu processo de auto-descobrimento e diferenciação.

Eu esperei por 34 anos e alguns meses para experienciar um renascimento, quando todo meu universo emocional, físico e psicológico estava num estado quente e denso até haver um grande rompimento incisivo na região do ventre e a minha vida recomeçar com um estrondoso choro de bebê.

Mas o início do meu Big Bang Materno foi bastante turbulento devido aos inúmeros aglomerados de emoções contraditórias que giravam em torno do meu átomo primordial. Agora, dois anos depois da grande explosão e com os principais problemas se aproximando de seus desvios para o vermelho, sinto que meu universo se resfriou e consigo vislumbrar a maravilha desta crição.

Agora que minha menina já é capaz de se comunicar com muitos olhares, sorrisos, gestos e algumas palavras, me dou conta de que minha vida estava incompleta sem a dela e que milhões de galáxias inexploradas de sentimentos nasceram junto com ela.

Minha filha não criou meu universo, mas o está expandindo em todas as direções, nos momentos em que ela, por exemplo, vê a lua cheia e redonda no céu escuro e diz: "Olho!" Aos poucos, ela vai me ensinando a perceber o mesmo mundo que eu pensava conhecer há mais de 36 anos através de seus imensos e inocentes olhos castanhos!

E, como um pequeno sistema solar recentemente formado, sou eu que giro em torno desse corpo cheio de energia.

E nas palavras de Adriana Calcanhoto: 
Eu não existo longe de você