quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Era uma casa muito engraçada...

Nós nos mudamos.
Deixamos o maior vilarejo da Inglaterra (Kidlington, no condado de Oxfordshire), para morarmos mais próximos de Londres, de indianos e do novo escritório do meu marido, em High Wycombe, no condado de Buckinghamshire. A localidade soa quase nobre, mas a similaridade com a residência da família real britânica termina no nome.

Saímos de um lugar amplo de dois andares, com suíte e banheiro social, cozinha americana, jardim e nossa própria árvore na frente da casa, para um apartamento de dois quartos no térreo, com uma cozinha sem veneziana e de frente para a entrada dos outros condomínios.

Tínhamos luz solar e espaço de sobra e podíamos estender nossas roupas no quintal, nos dias sem chuva. Agora, ainda que tenhamos a luz do sol o dia inteiro (o que se resumem a poucas horas no inverno), preferimos manter nossa privacidade e as cortinas fechadas aos olhares estranhos.

Lá tudo era novinho em folha e funcionava, e não havia animais domésticos indesejáveis, como ratos e baratas. Aqui, a mobília deixada pela proprietária até que é decente, mas o carpete é tão velho e azul que me pego evitando olhar para o chão, para não enjoar da cor. Além disso, já conseguimos encontrar insetos neste frio europeu.

Em Kidlington, apesar de termos escolhas limitadas de lazer, a administração local se procupava com o meio ambiente e recolhia uma de nossas três diferentes latas de lixo em semanas alternadas. Em High Wycombe, há muita área para as crianças e, surpreendentemente, um museu, mas vivemos na idade das trevas quando o assunto é coleta seletiva de lixo: papel, plástico, restos de comida e até fraldas sujas vão parar no mesmo saco preto para ser incinerado pelo município.

Mas o pior de tudo é, sem dúvida, o aquecimento de nosso novo lar. Sabíamos que tudo era movido à eletricidade, mas só agora percebemos que, por alguma estranha razão ainda desconhecida por nossa pouca experiência no lugar, dois adultos e uma criança não podem tomar um banho quente no mesmo dia. E a situação fica ainda mais dramática quando temos roupas para lavar.

Nessas horas, é do poeta Vinicius de Moraes de quem me lembro...

“Mas era feita com muito esmero
Na rua dos Bobos número zero.”

Nenhum comentário: