Em 1972, o então desconhecido e pouco experiente diretor Geoge Lucas travava uma luta contra toda a indústria cinematográfica de Hollywood para escrever, produzir e lançar um despretensioso filme sobre sua adolescência durante o final dos anos 50, numa pequena cidade da Califórnia. Filmado com um orçamento baixíssimo e um roteiro extremamente incomum para a época, American Graffiti foi um sucesso de bilheteria, arrecadando cerca de US$ 100 milhões e tirando o jovem cineasta do anonimato.
Isso pode ser visto e ouvido diretamento do diretor, no DVD que marca o aniversário de quase 40 anos da película. Mas não foi a história bem-sucedida deste garoto de Modesto que chamou minha atenção, e sim uma de suas últimas observações feitas durante o comentário do filme sobre algumas das gratas surpresas que se consegue ao se lançar numa empreitada dessas. E não consegui evitar a analogia com minha situação atual.
Neste 7 de março, fez um ano que nossa pequena família de três desembarcou nesta ilha já tão cheia de imigrantes (segundo as estatísticas oficiais, eles são um em cada cinco residentes legais da Inglaterra), não em busca de uma vida melhor, mas de uma vida mais tranquila, longe principalmente dos parentes do marido. E mesmo sendo ambos experientes em viver no exterior, criar sozinhos um bebê de apenas quatro meses (afastados de qualquer rosto amigo, fora da terra natal e sem o conforto da língua materna) tem sido a decisão mais difícil que já tomamos.
E uma luta constante, travada sem a ajuda da família (a minha, é claro), sem os conselhos dos amigos numa posição semelhante e sem a simpatia da população local xenófoba. Aqui, também, os recursos humanos e financeiros são limitados, não há tempo para ensaios e não conseguimos seguir o roteiro original, porque nossa filha desde cedo mostrou sinais de ter personalidade própria e de querer atuar seu papel como lhe dá na veneta.
Por isso, vamos improvisando à medida que as coisas inesperadas da vida vão surgindo a cada passo que damos no árduo caminho da mater/paternidade. Não é fácil e quando finalmente temos uma fase atrás de nós, uma nova, mais barulhenta e emporcalhada aparece no horizonte. E sou um exemplo clássico (sempre dando dores de cabeça aos meus pais) de que elas são quase sem fim como a tal linha que separa o céu da terra...
Mas há as gratas surpresas que fazem cada noite mal-dormida, cada choro de birra, cada crise de pirraça da nossa B&J Produção valer muito a pena: nos momentos em que ela entende e reage (na maioria das vezes, contrariamente) ao que falamos; quando nos acorda nas manhãs das noites mal-dormidas, ainda sonolenta mas cheia de carinho para oferecer; e principalmente quando demanda meu colo para sentar e poder lamber a ponta do meu nariz ou beliscar minhas bochechas.
No entanto, ela é certamente digna de um Oscar pela melhor e mais inusitada performance na hora das refeições. Não acredito que haja muitas crianças que comem, desde os 9 meses de idade, espinafre com ricota, risotto de cogumelo, pasta al pesto e várias iguarias apimentadas da Índia.
Eu não preciso esperar 40 anos para dizer que a minha filha já é meu maior orgulho e que ela nos tirou não do anonimato, mas de uma existência quase medíocre. E, apesar de não carregar meu sobrenome, ela é verdadeira e legitimamente uma produção sikh-brasileira independente, de baixo orçamento e sem nenhuma experiência.
Isso pode ser visto e ouvido diretamento do diretor, no DVD que marca o aniversário de quase 40 anos da película. Mas não foi a história bem-sucedida deste garoto de Modesto que chamou minha atenção, e sim uma de suas últimas observações feitas durante o comentário do filme sobre algumas das gratas surpresas que se consegue ao se lançar numa empreitada dessas. E não consegui evitar a analogia com minha situação atual.
Neste 7 de março, fez um ano que nossa pequena família de três desembarcou nesta ilha já tão cheia de imigrantes (segundo as estatísticas oficiais, eles são um em cada cinco residentes legais da Inglaterra), não em busca de uma vida melhor, mas de uma vida mais tranquila, longe principalmente dos parentes do marido. E mesmo sendo ambos experientes em viver no exterior, criar sozinhos um bebê de apenas quatro meses (afastados de qualquer rosto amigo, fora da terra natal e sem o conforto da língua materna) tem sido a decisão mais difícil que já tomamos.
E uma luta constante, travada sem a ajuda da família (a minha, é claro), sem os conselhos dos amigos numa posição semelhante e sem a simpatia da população local xenófoba. Aqui, também, os recursos humanos e financeiros são limitados, não há tempo para ensaios e não conseguimos seguir o roteiro original, porque nossa filha desde cedo mostrou sinais de ter personalidade própria e de querer atuar seu papel como lhe dá na veneta.
Por isso, vamos improvisando à medida que as coisas inesperadas da vida vão surgindo a cada passo que damos no árduo caminho da mater/paternidade. Não é fácil e quando finalmente temos uma fase atrás de nós, uma nova, mais barulhenta e emporcalhada aparece no horizonte. E sou um exemplo clássico (sempre dando dores de cabeça aos meus pais) de que elas são quase sem fim como a tal linha que separa o céu da terra...
Mas há as gratas surpresas que fazem cada noite mal-dormida, cada choro de birra, cada crise de pirraça da nossa B&J Produção valer muito a pena: nos momentos em que ela entende e reage (na maioria das vezes, contrariamente) ao que falamos; quando nos acorda nas manhãs das noites mal-dormidas, ainda sonolenta mas cheia de carinho para oferecer; e principalmente quando demanda meu colo para sentar e poder lamber a ponta do meu nariz ou beliscar minhas bochechas.
No entanto, ela é certamente digna de um Oscar pela melhor e mais inusitada performance na hora das refeições. Não acredito que haja muitas crianças que comem, desde os 9 meses de idade, espinafre com ricota, risotto de cogumelo, pasta al pesto e várias iguarias apimentadas da Índia.
Eu não preciso esperar 40 anos para dizer que a minha filha já é meu maior orgulho e que ela nos tirou não do anonimato, mas de uma existência quase medíocre. E, apesar de não carregar meu sobrenome, ela é verdadeira e legitimamente uma produção sikh-brasileira independente, de baixo orçamento e sem nenhuma experiência.
2 comentários:
Ai, que lindo este texto! Fez o coração mole da barriguda se derreter...
Adoro vocês!
beijos
você é uma guerreira, parabéns!
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