quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Lições do Setembro Passado - Parte II

Mesmo antes da minha filha nascer, eu já era inundada com uma enxurrada de coisas que eu devia ou não fazer.

Por exemplo: não devia comer mamão ou beber café nos primeiros meses de gravidez, porque podiam ser abortivos; não devia tomar suco de laranja nem chimarrão (ou qualquer outro alimento com bioflavonóides) nos meses finais da gestação, porque podiam prejudicar o coração do bebê; não devia consumir álcool ou remédio quando estava grávida, porque podiam causar má formação no feto. Tudo pela vida e bem-estar da criança! E que a pobre mãe padeça, por semanas a fio, de depressão ou com hemorróidas do tamanho de uvas!

É claro que as descobertas científicas devem ser recebidas com respeito e que as crendices populares têm um fundo de verdade, mas foi o comentário simples e sábio de uma colega de trabalho na Índia (que tinha se tornado mãe aos 40) que proporcionou um pouco de sensatez para eu manter minha dieta equilibrada e meu peso, sob controle: "Com moderação, pode-se comer e fazer qualquer coisa."

Mas se as quarenta semanas de gestação de uma mulher já não bastassem com bombardeios de conselhos (bem-intencionados, mas por vezes contraditórios), eles continuam a ser lançados de todos os lados (como projéteis) quando o rebento finalmente vem ao mundo. Todo mundo tem uma opinião ou ouviu falar ou leu a respeito de como o recém-nascido deve ser segurado, vestido, alimentado, trocado, colocado para dormir... Em certas culturas, não temos nem o direito de escolher o nome dos próprios filhos! É uma batalha diplomática que temos de travar pelo resto de nossas vidas como mães. Tenho certeza que vou escutar, mesmo depois que minha menina tiver se tornado uma mulher adulta, coisas do tipo: "Se você tivesse feito isso, não teria acontecido aquilo..." E o inverso também.
Até que chega o dia em que realmente precisamos deles, dos conselhos alheios: quando nossas crias adoecem.

Esse dia chegou para mim em setembro, quando minha filha ficou muito doente. Ela perdeu o apetite e algum peso e, por mais de duas semanas, vomitava o pouco que comia, além de apresentar uma diarréia aguda que nenhum médico conseguia diagnosticar com precisão. Primeiro, achou-se que ela estava com rotavírus; depois, falou-se em intoxicação alimentar e até na presença de vermes. Por fim, o resultado do exame de fezes (que demorou mais de 10 dias para ficar pronto) revelou que ela estava com criptosporidíase, uma gastroenterite causada por um protozoário da espécie Crytosporidium e sem tratamento com remédios tradicionais. A médica que nos atendeu foi cautelosa e apenas prescreveu sachês de soro caseiro com sabor de groselha, para repor a perda de sais e líquidos e tentar segurar a comida no estômago.

Parecia simples, mas não funcionou. Nem os sucos, nem o leite de soja, nem a batida de banana com leite de soja, nem as maçãs raladas, nem a água de arroz...

Até que fui a um salão retocar a raiz coberta de fios brancos e a cabelereira polonesa (com dois adolescentes em casa) me falou de uma solução impensável e impraticável para muitas mães um pouco mais conscientes a respeito da própria alimentação e a dos filhos: Coca-Cola. Não a Diet, não a Zero, não a Light, nem a Light Plus. A normal mesmo, cheia de calorias, água gaseificada, ácido fosfórico, cafeína e extrato de noz de cola. Resisti à ideia durante o tempo em que estive sentada na cadeira do salão, mas saí dali decidida a tentar. E dei uma latinha de Coca-Cola para a minha filha, por três dias consecutivos.

Funcionou! As crises de diarréia continuaram por outras duas semanas, mas ela parou de vomitar desde o primeiro dia e voltou a tomar as não-tão-aconselháveis-nessas-situações mamadeiras com leite de vaca integral. E sem nenhum problema.

E essa foi minha segunda lição no mês passado. Não posso ser responsabilizada por formar mais uma consumidora da bebida criada por John Pemberton no final do século XIX. Enquanto puder evitar e ela estiver bem de saúde, os produtos desta multi-nacional vão permanecer longe dos imensos olhos castanhos e dos lábios ávidos por açúcar da minha filha.

Mas aprendi outro ensinamento simples e sábio que vai permear meus próximos anos no exercício da maternidade: a "Teoria Materna da Relatividade", ou seja, mães diferentes oferecem visões perfeitamente plausíveis, ainda que diferentes, de um mesmo "remédio". Trocando em miúdos: o que funciona para uma, pode não funcionar para outra, mas, pelo bem-estar da criança, vale a pena tentar tudo.

Com moderação.

Um comentário:

Ana Dos Santos disse...

o que funciona para uma, pode não funcionar para outra, mas, pelo bem-estar da criança, vale a pena tentar tudo.

Com moderação.