sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

The Sun still doesn't set on the British Empire

Até pouco tempo atrás, existia um império tão vasto e poderoso que sempre havia uma parte de seu território iluminada pela luz do Sol.

Esse era o Império Britânico no seu apogeu (no início do século XX), quando chegou a abranger quase 34 milhões de quilômetros quadrados da área terrestre do nosso planeta e 500 milhões de pessoas! Não é por acaso que o Observatório Real de Greenwich é definido como o ponto do Meridiano Principal, dividindo o mundo em Leste e Oeste.

Entre 1500 e 1997, as feitorias, colônias e protetorados que estavam sob controle desse pequeno país insular na costa noroeste da Europa continental incluíam Afganistão, América do Norte, Austrália, Bahamas, Bahrain, Bangladesh, Barbados, Belize, Botswana, Brunei, Myanmar, Camarões, Canadá, Cingapura, Egito, Fiji, Gambia, Ghana, Iêmen, Índia, Iraque, Irlanda, Jamaica, Kênia, Kuwait, Lesotho, Malásia, Malta, Maurícia, Nigéria, Nova Zelândia, Paquistão, Serra Leoa, Sri Lanka, Tanzânia, Trinidad e Tobago, Uganda (...), além de dezenas de outras ilhas, catorze delas ainda pertencentes ao Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte!

E, mesmo antes do final da II Guerra Mundial, ventos de liberdade começaram a soprar (com a criação de um Estado Livre Irlandês) e nuvens de independência passaram a ofuscar o Sol que parecia nunca se pôr naquele vasto império... E suas nações-colônias foram, aos poucos, saindo do jugo bretão, até culminar com a devolução de Hong Kong à República Popular da China, em 1997.


Além de legar o idioma inglês, o futebol, o críquete, o tênis, o golfe e a direção no lado esquerdo da estrada a cerca de 400 milhões de ex-súditos, o Império Britânico também deixou um rastro de problemas políticos e religiosos para a maioria dos recém-formados governos e seus cidadãos ávidos por direitos civis, provocando uma gigantesca onda migratória rumo ao centro do império. Como consequência, as ruas e a culinária do Reino Unido nunca estiveram tão ricas e "coloridas", desde a ocupação da ilha por celtas, romanos, vikings, germânicos, anglo-saxões, normandos, escoceses, irlandeses, huguenotes e judeus russos...

É por isso que uma explosão pública de racismo (flagrada num bonde de Londres e colocada no YouTube no dia 27 de novembro - http://www.youtube.com/watch?v=i47HoiM0Au8&feature=youtube_gdata_player) atrai tanta atenção e causa tamanho desconforto (pelo menos em mim e nas autoridades locais que prontamente a detiveram por perturbação da ordem pública com comentários racistas - http://www.bbc.co.uk/news/uk-england-london-15923875). Em pouco menos de uma semana, o vídeo que mostra uma mulher branca com uma criança loira no colo e praguejando contra negros, polaneses e os demais passageiros não-britânicos, teve quase 9 milhões de acessos. Esse número excede a população da capital inglesa em mais de um milhão! E o mais chocante é ver quantas pessoas gostaram do que ela fez e disse!

Pois, o que é ser britânico afinal de contas? É falar inglês empolado, tomar uma xícara de chá com biscoitos no meio da tarde ou comer peixe e batatas fritas de uma lanchonete de esquina? Porque tudo isso foi trazido para esta ilha por imigrantes! O inglês (que nem é o idioma de jure do Reino Unido, mas apenas o mais falado) é uma mistura da língua germânica ocidental com palavras de norueguês antigo, francês normando e latim. O hábito de tomar chá à tarde só foi introduzido na Inglaterra por volta de 1840, graças aos mercadores da Companhia Britânica das Índias Orientais e às suas Coffee Houses que popularizaram a bebida entre as classes mais baixas. E o mais tradicional takeaway inglês começou com uma lojinha do judeu Joseph Malin, em Londres, na metade do século XIX.

Tudo bem. São tempos difíceis, o desemprego está alto e os cortes do governo nos benefícios de vários setores da sociedade estão afetando muita gente, inclusive os não-britânicos. Mas culpar os estrangeiros pelos problemas econômicos do país é dar um passo atrás na História e esquecer as lições de um passado não muito distante. A maré virou e todos deste (e do outro)lado do Canal da Mancha parecem estar colhendo os frutos de uma árvore moderna plantada com as Grandes Navegações e o estabelecimento do sistema capitalista.

Não é fácil quebrar uma tradição de quase 500 anos: a de dominar, explorar e arruinar os países de línguas, culturas, religiões e etnias diferentes, em busca de mão-de-obra barata e matéria-prima abundante para fomentar alguma Revolução Industrial. Mais difícil ainda é lidar com os vestígios deixados pelo maior império que o Homem já viu. E seus milhões de despatriados, refugiados e perseguidos.

Ainda mais quando há milhares tropas britânicas no Afeganistão, nos Bálcãs, no Iraque, no Chipre, em Gilbratar, na Irlanda do Norte e nas Ilhas Malvinas, ou melhor, Falkland Islands! E por que cerca de cinco milhões de britânicos civis, morando e trabalhando no exterior, não estão nesta grande Bretanha, enfiados num pub, bebendo a pint of ale e comendo fish'n'chips, mate? Ou só eles têm o direito de buscar uma vida melhor?

Nenhum comentário: