Era uma vez, num reino criado pela escritora inglesa Babette Cole, uma princesa fora dos padrões fabulosos: ela mantinha criaturas gigantes e asquerosas como animais de estimação, não queria se casar de forma alguma e desafiava os pretendentes à sua mão com maratonas pouco comuns.
Uma estória perfeita para feministas de qualquer idade ou país, mas longe de ter um final feliz para as mães das meninas que decidem seguir as façanhas inconsequentes da Princesa Smartypants e quebrar todas as regras. Especialmente num Reino de verdade, cujos membros da realeza e seus súditos se orgulham de seguir tradições centenárias e outras boas maneiras adquiridas mais recentemente.
Confesso que tenho uma opinião, parcialmente, semelhante à da autora infatil e sempre tive muita aversão a rótulos. Tanto que nunca dei uma boneca para minha filha, nem me preocupei com o fato de ela jogar bola ou brincar com trens, aviões e carrinhos. E também não ficaria sem dormir se ela permanecesse solteira por toda a sua vida. No entanto, Miss Cole, há certas regras (como as de cortesia) que não podem ser quebradas de maneira alguma, nem por personalidades régias nem plebleias (muito menos por beldades endinheiradas!), com o risco de afetar o relacionamento entre as pessoas de modo irremediável.
Mesmo com dois anos e quase quatro meses, minha menina ainda engatinha na demonstração pública de boas-maneiras e isso já começa a me causar preocupação e constrangimento.
E a culpa é inteiramente minha. Não apenas sou um terrível exemplo a ser copiado dentro de casa (pois já perdi todo o recato em relação aos chamados e assobios da Natureza, inclusive na frente do marido), como também não tenho oferecido muitas oportunidades a ela para copiar as crianças bem-comportadas e treinadas (uma vez que nunca frequentou creches ou berçários).
Além disso, como é a Choti Maharani - Pequena Rainha - nos lados materno e paterno da família, minha filha recebe atenção integral, amor não-dividido e tudo o mais que puder ser conseguido à base de choro, grito e pirraça. Por isso, até agora não precisou aprender a dizer 'por favor' e 'obrigada', nem a formar fila e esperar pela vez. Não sabe o que é rotina, não consegue ficar sentada por muito tempo nem à mesa e só obedece à mãe na marra...
É... Eu sei... A culpa continua sendo só minha e, para me redimir um pouco dela, já coloquei minha filha em aulas rigorosamente estruturadas de dança, artes e natação, além de fazê-la participar e ouvir Stories & Rhymes for the Under 5s comportadamente, por meia hora, na biblioteca central de Watford (sem tentar arrancar o livro das mãos da bibliotecária e me encher de vergonha na frente das outras mães) e deixá-la resolver seus pequenos conflitos nos playgrounds da cidade sozinha.
E tenho esperança de que ainda haja tempo para moldar esse serzinho selvagem e cheio de personalidade e conduzir minha menina loba de volta à civilização, antes que ela encontre algum urso Balu pelo caminho ou se transforme, de vez, numa choti Smartypants.
Uma estória perfeita para feministas de qualquer idade ou país, mas longe de ter um final feliz para as mães das meninas que decidem seguir as façanhas inconsequentes da Princesa Smartypants e quebrar todas as regras. Especialmente num Reino de verdade, cujos membros da realeza e seus súditos se orgulham de seguir tradições centenárias e outras boas maneiras adquiridas mais recentemente.
Confesso que tenho uma opinião, parcialmente, semelhante à da autora infatil e sempre tive muita aversão a rótulos. Tanto que nunca dei uma boneca para minha filha, nem me preocupei com o fato de ela jogar bola ou brincar com trens, aviões e carrinhos. E também não ficaria sem dormir se ela permanecesse solteira por toda a sua vida. No entanto, Miss Cole, há certas regras (como as de cortesia) que não podem ser quebradas de maneira alguma, nem por personalidades régias nem plebleias (muito menos por beldades endinheiradas!), com o risco de afetar o relacionamento entre as pessoas de modo irremediável.
Mesmo com dois anos e quase quatro meses, minha menina ainda engatinha na demonstração pública de boas-maneiras e isso já começa a me causar preocupação e constrangimento.
E a culpa é inteiramente minha. Não apenas sou um terrível exemplo a ser copiado dentro de casa (pois já perdi todo o recato em relação aos chamados e assobios da Natureza, inclusive na frente do marido), como também não tenho oferecido muitas oportunidades a ela para copiar as crianças bem-comportadas e treinadas (uma vez que nunca frequentou creches ou berçários).
Além disso, como é a Choti Maharani - Pequena Rainha - nos lados materno e paterno da família, minha filha recebe atenção integral, amor não-dividido e tudo o mais que puder ser conseguido à base de choro, grito e pirraça. Por isso, até agora não precisou aprender a dizer 'por favor' e 'obrigada', nem a formar fila e esperar pela vez. Não sabe o que é rotina, não consegue ficar sentada por muito tempo nem à mesa e só obedece à mãe na marra...
É... Eu sei... A culpa continua sendo só minha e, para me redimir um pouco dela, já coloquei minha filha em aulas rigorosamente estruturadas de dança, artes e natação, além de fazê-la participar e ouvir Stories & Rhymes for the Under 5s comportadamente, por meia hora, na biblioteca central de Watford (sem tentar arrancar o livro das mãos da bibliotecária e me encher de vergonha na frente das outras mães) e deixá-la resolver seus pequenos conflitos nos playgrounds da cidade sozinha.
E tenho esperança de que ainda haja tempo para moldar esse serzinho selvagem e cheio de personalidade e conduzir minha menina loba de volta à civilização, antes que ela encontre algum urso Balu pelo caminho ou se transforme, de vez, numa choti Smartypants.