Em 2011, telas de cinema do mundo inteiro apresentavam a estória de Dylan e Jamie (em Friends with benefits), dois amigos que tinham terminado um relacionamento recentemente e não queriam nenhum envolvimento emocional. Mas, como eles estavam solteiros e solitários e precisavam muito de sexo, decidiram levar sua amizade a um estágio mais íntimo e menos romântico, tirando, assim, o maior proveito possível de uma relação com afeto mas sem complicações.
É claro que elas (as tais das complicações) foram surgindo no progredir dessa situação, porque os sentimentos são energias independentes e quase nunca obedecem às racionalizações da cabeça.
Ou quase nunca.
Como explicar o aparente sucesso secular dos casamentos arranjados na Índia?
Eles são tão friamente planejados pelos pais dos noivos que há pouco espaço para o amor entrar na vida dos recém-casados. Mesmo assim, é uma tradição passada de geração para geração sem muita contestação ou debate, talvez porque seja fundamentada no alto grau de compatibilidade entre o futuro casal. Uma união só é abençoada (inclusive com o aval de astrólogos e sacerdotes brâmanes), se as partes envolvidas são da mesma religião, pertencem à mesma casta e falam a mesma língua.
Mas as afinidades tendem a terminar por aí. Mulheres com níveis cultural e educacional semelhantes aos dos homens não são desejáveis para serem desposadas e as solteiras com PhD têm muita dificuldade em mudar seu estado civil.
Por quê? Pela óbvia razão de que um QI alto numa mente feminina pode representar um risco real à harmonia do matrimônio e desestabilizar a 'ordem natural' do mundo criado, dominado e ditado pelo gênero masculino.
Então, se não é o amor que une os noivos indianos e não vai haver muitas chances de se desenvolver uma amizade entre eles, como definir a relação de marido e mulher na Índia?
Com outra estória.
Uma que ainda não virou filme de Hollywood, mas que é baseada em fatos verídicos e nomes fictícios.
E essa teve um início bem inusitado, uma vez que Reeta e Ajay já se conheciam da faculdade, em Delhi, e começaram a namorar em segredo. Bem, pelo menos os pais de ambos não sabiam dessa relação que teve um prólogo feliz e acabou em casamento, pois os três requisitos acima mencionados (religião, casta e língua em comuns) foram atendidos. Mas o casal apaixonado não ficou muito tempo em sua terra natal e, três semanas depois de trocarem guirlandas com notas de rúpias, migraram para a Inglaterra onde o serviço de cozinheiras e faxineiras é oneroso e apenas os membros da realeza têm condições financeiras de pagar por eles diariamente.
E foi nesse ponto da trama que a estória de Reeta passou a ter o mesmo enredo que as demais indianas: ela acordava às 6h da manhã para ir à academia por 45 minutos e, então, voltava para casa para tomar banho, se arrumar, fazer o café-da-manhã de dois e partir para o escritório na cidade vizinha, onde ficava até às cinco da tarde.
Ajay só saía da cama às 8h45 e já tinha a comida pronta a lhe esperar; ele trabalhava de casa e almoçava o que havia sobrado da noite anterior; passava o dia no telefone, diante do computador ou na frente da geladeira beslicando, e não parecia ter tempo para ajudar nos afazeres domésticos. Nem a louça suja do desjejum e almoço conseguiam desviar sua atenção do árduo trabalho em que se concentrava e alcançavam a pia da cozinha!
Somente quando Reeta retornava à casa, ouvia-se o barulho de água escorrendo por pratos e talheres e sentia-se o o cheiro de comida fresca sendo preparada. Depois da janta, ela ainda conseguia esticar as horas produtivas de seu dia, recolhendo as roupas secas nos radiadores do apartamento e lavando as que se empilhavam num canto do banheiro. E, já na cama, quando pensava que poderia dar um pouco de repouso ao corpo fatigado, lá vinha Ajay demandar seus direitos de marido.
Mas Reeta não tinha do quê reclamar. Ela havia crescido num mundo em que, para a mulher, é mais importante aprender a cozinhar do que a ler; numa cultura em que o homem é criado para se casar não com o amor de sua vida nem com sua melhor amiga, mas com empregadas.
Servants with benefits.
And I've got already my apron on...
É claro que elas (as tais das complicações) foram surgindo no progredir dessa situação, porque os sentimentos são energias independentes e quase nunca obedecem às racionalizações da cabeça.
Ou quase nunca.
Como explicar o aparente sucesso secular dos casamentos arranjados na Índia?
Eles são tão friamente planejados pelos pais dos noivos que há pouco espaço para o amor entrar na vida dos recém-casados. Mesmo assim, é uma tradição passada de geração para geração sem muita contestação ou debate, talvez porque seja fundamentada no alto grau de compatibilidade entre o futuro casal. Uma união só é abençoada (inclusive com o aval de astrólogos e sacerdotes brâmanes), se as partes envolvidas são da mesma religião, pertencem à mesma casta e falam a mesma língua.
Mas as afinidades tendem a terminar por aí. Mulheres com níveis cultural e educacional semelhantes aos dos homens não são desejáveis para serem desposadas e as solteiras com PhD têm muita dificuldade em mudar seu estado civil.
Por quê? Pela óbvia razão de que um QI alto numa mente feminina pode representar um risco real à harmonia do matrimônio e desestabilizar a 'ordem natural' do mundo criado, dominado e ditado pelo gênero masculino.
Então, se não é o amor que une os noivos indianos e não vai haver muitas chances de se desenvolver uma amizade entre eles, como definir a relação de marido e mulher na Índia?
Com outra estória.
Uma que ainda não virou filme de Hollywood, mas que é baseada em fatos verídicos e nomes fictícios.
E essa teve um início bem inusitado, uma vez que Reeta e Ajay já se conheciam da faculdade, em Delhi, e começaram a namorar em segredo. Bem, pelo menos os pais de ambos não sabiam dessa relação que teve um prólogo feliz e acabou em casamento, pois os três requisitos acima mencionados (religião, casta e língua em comuns) foram atendidos. Mas o casal apaixonado não ficou muito tempo em sua terra natal e, três semanas depois de trocarem guirlandas com notas de rúpias, migraram para a Inglaterra onde o serviço de cozinheiras e faxineiras é oneroso e apenas os membros da realeza têm condições financeiras de pagar por eles diariamente.
E foi nesse ponto da trama que a estória de Reeta passou a ter o mesmo enredo que as demais indianas: ela acordava às 6h da manhã para ir à academia por 45 minutos e, então, voltava para casa para tomar banho, se arrumar, fazer o café-da-manhã de dois e partir para o escritório na cidade vizinha, onde ficava até às cinco da tarde.
Ajay só saía da cama às 8h45 e já tinha a comida pronta a lhe esperar; ele trabalhava de casa e almoçava o que havia sobrado da noite anterior; passava o dia no telefone, diante do computador ou na frente da geladeira beslicando, e não parecia ter tempo para ajudar nos afazeres domésticos. Nem a louça suja do desjejum e almoço conseguiam desviar sua atenção do árduo trabalho em que se concentrava e alcançavam a pia da cozinha!
Somente quando Reeta retornava à casa, ouvia-se o barulho de água escorrendo por pratos e talheres e sentia-se o o cheiro de comida fresca sendo preparada. Depois da janta, ela ainda conseguia esticar as horas produtivas de seu dia, recolhendo as roupas secas nos radiadores do apartamento e lavando as que se empilhavam num canto do banheiro. E, já na cama, quando pensava que poderia dar um pouco de repouso ao corpo fatigado, lá vinha Ajay demandar seus direitos de marido.
Mas Reeta não tinha do quê reclamar. Ela havia crescido num mundo em que, para a mulher, é mais importante aprender a cozinhar do que a ler; numa cultura em que o homem é criado para se casar não com o amor de sua vida nem com sua melhor amiga, mas com empregadas.
Servants with benefits.
And I've got already my apron on...