terça-feira, 3 de abril de 2012

The Orange Brigade

A primeira vez que ouvi falar da Brigada Laranja foi em 2008, quando a ideia de ter um marido e uma filha ainda era distante e eu vivia, sem o saber, minha última grande aventura sozinha, em Londres.
Logo vim a descobrir que essa não era uma facção da Fraternidade Protestante da Irlanda do Norte (The Orange Order), nem os fiéis assinantes da empresa de telefonia móvel 'Orange'. No entanto, tal expressão parecia mais uma brincadeira entre colegas de profissão, quando o mais respeitável dos nossos professores de inglês explicou, com risadinhas contidas, que esse era o nome pelo qual eram conhecidas as mulheres que se submetiam ao bronzeamento artificial durante os rigorosos meses de inverno no Reino Unido.
Sim, eu mesma já tinha visto rostos exageradamente alaranjados passeando pelas ruas movimentadas de Oxford St e Regent St, mas imaginar que já havia uma palavra para designar um mero modismo feminino era um absurdo. Soava mais como uma lenda urbana do país...
Três anos depois, eu voltava ao cenário londrino para passar o carnaval de Notting Hill com a minha recém formada família e me deparei com o verdadeiro destaque da festa.
Caía uma garoa fina naquele domingo quente de agosto e, ao meu lado, estava uma mulher de meia-idade dançando ao ritmo dos caminhões de som que embalavam a multidão nas ruas do Condado Real de Kensignton e Chelsea. Ela usava um espartilho bege e uma calça branca extremamente colados ao corpo e tinha o cabelo preso com uma fita para esconder a emenda dos fios naturais com as falsas madeixas.
Em poucos minutos, junto com a água da chuva, escorria um líquido alaranjado pelo rosto e pelos braços roliços daquela mulher, desde a testa até o colo descoberto, maculando suas vestimentas claras de maneira inapropriada e lamentável. Mas ela continuou remexendo os quadris, indiferente ou ignorante ao espetáculo patético que encenava, talvez na esperança de que ninguém mais o notasse.
Infelizmente, eu estava ali para notar e imediatamente me lembrei da expressão de 2008.
Mas segui com minha vida, porque a Brigada Laranja não fazia parte dela...
Até seis meses mais tarde eu me encontrar numa loja de cosméticos no único shopping centre de Watford e me ver comprando, enganadamente pelas luzes artificiais do lugar, o pó compacto errado para minha tonalidade de pele.
Só me dei conta do engano no dia seguinte (e nos que a ele se seguiram), quando empurrava o carrinho da minha filha pela St Albans Road e tinha o rosto apresentando os tons daquela cor terciária. Mantive a cabeça erguida, não cheia de orgulho, apenas cuidando o céu para voltar rapidamente para casa ao menor sinal de chuva.

Um comentário:

Anônimo disse...

Hahaha! Sabe que nunca fui de usar maquiagem, no máximo um lápis no olho, um rimelzinho... Mas agora, depois do nascimento de Ben, devido às olheiras e manchinhas que apareceram em minha pele, tenho recorrido ao kit corretivo + base + pó. Farei eu também parte da Brigada Laranja? ;-)