Há pessoas que acham que a gravidez, o ato de dar à luz e a maternidade são os momentos mais profundos e femininos na vida de uma mulher.
Pessoalmente, não acredito que esses eventos estejam restritos ao gênero e acho que eles sejam, de fato, uma experiência cármica de proporções cósmicas imensuráveis, que abalam as trajetórias de evolução de dois ou mais espíritos, mútua e constantemente.
Eu planejei minha cesária. Eu escolhi o nome e o dia em que minha filha viria ao mundo, com base no melhor resultado que a numerologia online podia me oferecer. Eu consegui intervir ainda mais e cheguei a marcar a hora que ela iria nascer; mas os minutos e segundos que determinariam o arranjo planetário do exato instante em que ela fosse inspirar o prana pela primeira vez estavam absolutamente fora do meu controle.
Assim, a fotografia do céu (com sua distribuição de signos, planetas e aspectos pelas doze casas do seu zodíaco), ou seja, o mapa astrológico da minha filha troxe formações e elementos inesperados. Parecia um aviso divino dizendo que, mesmo podendo conceber uma vida, eu não era Deus; parecia um lembrete, tatuado num plano superior, do que precisávamos retomar de um passado em comum.
E lá estava minha menina com sua Lua em Câncer, fazendo quadratura com Saturno.
Para quem não entende de astrologia, essa é uma posição extremamente desfavorável e tem repercussões profundas na psique da criança, além de ser uma das piores culpas para uma mãe carregar. Segundo a interpretação dada pelo próprio site que me mostrou o aspecto planetário:
"Her relationship with her mother is disturbing and difficult, she has considerable family problems. This is the standard aspect for children who are abandoned or lack maternal love."
Estranhamente, desde que ela nasceu, tenho ouvido, mais ou menos, o mesmo tipo de comentário de pessoas próximas a mim ou não: "Tão bonitinha! Se não quiser, pode me dar que eu cuido!"
Nunca descobri se isso é uma coisa comum de uma mãe ouvir ou se a maldita quadratura já pairava acima da minha cabeça, mas o fato é que venho, desde então, me perguntando se eu seria capaz de abrir mão daquele bebê que eu tanto queria só para mim.
E, em abril, quando me deparei com o livro de Margaret Forster, "Shadow Baby", sobre duas meninas abandonadas pelas mães por razões e em épocas diferentes, achei que entenderia os motivos 'maternos' para um ato desses.
Apesar do abalo sísmico que a leitura me causou, não consegui me identificar com o perfil psicológico das protagonistas. Eu não era jovem nem estava economicamente desamparada quando engravidei da minha menina, e também não a acusei de ser o resultado de uma entrega amorosa ingênua.
Pouco mais tarde, encontrei outro título que chamou minha atenção: "The Child Inside" de Suzanne Bugler, que narrava a estória, em primeira pessoa, de uma mulher de 40 anos, insatisfeita com a vida de mãe-esposa-e-dona-de-casa após perder o segundo bebê com 7 meses de gestação. Não passei por tal perda, mas o descontentamento e a amargura de Rachel me soaram muito familiares e me mostraram que o relacionamento ruim entre os pais pode, igualmente, desestruturar o emocional da criança.
E foi então que eu entendi.
Em qualquer lugar no mapa astral, Saturno é um planeta muito difícil, limitante, castrador; e uma quadratura com a Lua pode mostrar uma figura materna com características semelhantes. Dessa forma, ao invés de um desapego total (que levaria ao abandono), eu desenvolvi um amor quase patológico pela minha filha, mantendo-a só para mim; tirando-a, deliberadamente, do convívio com os avôs paternos; negando sua herança indiana; e, principalmente, limitando o número de pessoas que podem competir comigo por seu carinho e atenção.
Eu acabei me tornando uma mãe saturniana, pronta para devorar meu filhote.
Não vai ser nada fácil, mas é aqui que tenho o poder (e o dever) de, mais uma vez, intervir nos nossos destinos e criar um carma positivo para nós duas, pois o que está escrito nas estrelas e nas doze casas zodiacais de cada indivíduo não é uma sentença final e definitiva.
Ter a lucidez de que nosso encontro espiritual não foi casual (mas causal) é o início para poder melhorá-lo.
E, parafraseando o filósofo existencialista:
Não importa o que foi escrito para mim (ou minha filha); o que importa, é como vou agir com aquilo que escreveram para nós.
Pessoalmente, não acredito que esses eventos estejam restritos ao gênero e acho que eles sejam, de fato, uma experiência cármica de proporções cósmicas imensuráveis, que abalam as trajetórias de evolução de dois ou mais espíritos, mútua e constantemente.
Eu planejei minha cesária. Eu escolhi o nome e o dia em que minha filha viria ao mundo, com base no melhor resultado que a numerologia online podia me oferecer. Eu consegui intervir ainda mais e cheguei a marcar a hora que ela iria nascer; mas os minutos e segundos que determinariam o arranjo planetário do exato instante em que ela fosse inspirar o prana pela primeira vez estavam absolutamente fora do meu controle.
Assim, a fotografia do céu (com sua distribuição de signos, planetas e aspectos pelas doze casas do seu zodíaco), ou seja, o mapa astrológico da minha filha troxe formações e elementos inesperados. Parecia um aviso divino dizendo que, mesmo podendo conceber uma vida, eu não era Deus; parecia um lembrete, tatuado num plano superior, do que precisávamos retomar de um passado em comum.
E lá estava minha menina com sua Lua em Câncer, fazendo quadratura com Saturno.
Para quem não entende de astrologia, essa é uma posição extremamente desfavorável e tem repercussões profundas na psique da criança, além de ser uma das piores culpas para uma mãe carregar. Segundo a interpretação dada pelo próprio site que me mostrou o aspecto planetário:
"Her relationship with her mother is disturbing and difficult, she has considerable family problems. This is the standard aspect for children who are abandoned or lack maternal love."
Estranhamente, desde que ela nasceu, tenho ouvido, mais ou menos, o mesmo tipo de comentário de pessoas próximas a mim ou não: "Tão bonitinha! Se não quiser, pode me dar que eu cuido!"
Nunca descobri se isso é uma coisa comum de uma mãe ouvir ou se a maldita quadratura já pairava acima da minha cabeça, mas o fato é que venho, desde então, me perguntando se eu seria capaz de abrir mão daquele bebê que eu tanto queria só para mim.
E, em abril, quando me deparei com o livro de Margaret Forster, "Shadow Baby", sobre duas meninas abandonadas pelas mães por razões e em épocas diferentes, achei que entenderia os motivos 'maternos' para um ato desses.
Apesar do abalo sísmico que a leitura me causou, não consegui me identificar com o perfil psicológico das protagonistas. Eu não era jovem nem estava economicamente desamparada quando engravidei da minha menina, e também não a acusei de ser o resultado de uma entrega amorosa ingênua.
Pouco mais tarde, encontrei outro título que chamou minha atenção: "The Child Inside" de Suzanne Bugler, que narrava a estória, em primeira pessoa, de uma mulher de 40 anos, insatisfeita com a vida de mãe-esposa-e-dona-de-casa após perder o segundo bebê com 7 meses de gestação. Não passei por tal perda, mas o descontentamento e a amargura de Rachel me soaram muito familiares e me mostraram que o relacionamento ruim entre os pais pode, igualmente, desestruturar o emocional da criança.
E foi então que eu entendi.
Em qualquer lugar no mapa astral, Saturno é um planeta muito difícil, limitante, castrador; e uma quadratura com a Lua pode mostrar uma figura materna com características semelhantes. Dessa forma, ao invés de um desapego total (que levaria ao abandono), eu desenvolvi um amor quase patológico pela minha filha, mantendo-a só para mim; tirando-a, deliberadamente, do convívio com os avôs paternos; negando sua herança indiana; e, principalmente, limitando o número de pessoas que podem competir comigo por seu carinho e atenção.
Eu acabei me tornando uma mãe saturniana, pronta para devorar meu filhote.
Não vai ser nada fácil, mas é aqui que tenho o poder (e o dever) de, mais uma vez, intervir nos nossos destinos e criar um carma positivo para nós duas, pois o que está escrito nas estrelas e nas doze casas zodiacais de cada indivíduo não é uma sentença final e definitiva.
Ter a lucidez de que nosso encontro espiritual não foi casual (mas causal) é o início para poder melhorá-lo.
E, parafraseando o filósofo existencialista:
Não importa o que foi escrito para mim (ou minha filha); o que importa, é como vou agir com aquilo que escreveram para nós.