sexta-feira, 18 de maio de 2012

What is the cure?

Eu tinha apenas um ano quando a banda inglesa de rock alternativo The Cure era formada na pequena cidade de Crawley, em West Sussex, mas algumas das músicas de Robert Smith acabaram fazendo parte da trilha sonora da minha adolescência, no final dos anos 80.
O irônico é que, somente agora, vinte e poucos anos depois, as letras atormentadas do vocalista e compositor gótico passaram a fazer sentido na minha vida, como "In Between Days" :
"Yesterday I got so old
I felt like I could die
Yesterday I got so old
It made me want to cry [...]"
Então, resolvi entender melhor essa sensação e descobrir se meu corpo está realmente tão velho quanto o coração o sente, e fiz um teste online para saber minha idade interior (http://www.idadeinterior.com.br/). O resultado foi perturbador e, segundo o tal site, já tenho 40 anos! 
Mas acho que envelheci não apenas por ter me tornado mãe e parado de fazer as atividades físicas que eu fazia antes da gravidez (ou durante! Eu corria na esteira até um mês antes da minha filha nascer). Também não foi por eu ter largado o emprego recentemente e qualquer outro tipo de hobby e só estar me dedicando à casa, à cozinha e à Pequena.
O problema é bem mais antigo, mas só começou a me incomodar com a chegada da minha menina, quando se tornou impossível conviver com os sintomas.
Faz muitos e muitos anos que sofro de solidão.
Não, não é depressão. É solidão mesmo. É um estado emocional que me torna incapaz de me conectar intimamente com as pessoas e acaba me distanciando e isolando delas.
Na adolescência, o excesso de peso foi o disfarce que ela usou para me encurralar nos cantos das salas de aula e das reuniões dançantes, sempre me cobrindo com uma roupagem de inadequação e baixa auto-estima.
Eu simplesmente não conseguia pertencer a nenhum grupo.
E logo cedo fui procurar refúgio em longas viagens ao exterior, em países que eu não compreendia a língua nem a cultura e que passaram a me dar a perfeita desculpa para fermentar, ainda mais, o sentimento de solidão.
Mas fuji por muito tempo e fui longe demais, e acabei me casando e concebendo uma criança com um homem tão diferente de mim que não conseguimos nos entender nos menores assuntos dos breves momentos familiares que compartilhamos.
Não concordamos em quase nada, mas decidimos, juntos, viver distante da família dele, num território neutro, para criarmos nossa filha, aparentemente nosso único ponto em comum.
E foi quando meu estado se agravou.
Nunca senti mais solidão do que nas 10, 11, 12 horas que passava sozinha por dia com um bebê (meu primeiro bebê) de apenas 4 meses, sem parentes, sem amigos, sem um marido que compreendesse o quê nem como eu estava me sentindo num país estranho, frio, cinzento e nada amigável com estrangeiros.
E, agora que minha filha está com idade de socializar com seus pares e frequentar a pré-escola, sou novamente tomada pela sensação de inadequação e baixa auto-estima. Dessa vez, não por causa do meu peso, mas por causa do meu inglês incorreto e pouco fluente.
Continuo a não pertencer. Continuo no canto das salas, ouvindo as mães inglesas falarem, animadamente, sobre um tipo de vida que não tem nada a ver com o meu.
E volto a sentir a solidão, com toda sua força.
Branqueando meus cabelos, descalcificando meus ossos, manchando minhas mãos com senilidade.
Não sei se Robert Smith teria a cura. 
Talvez se tivesse prestado atenção em outra de suas músicas, "Cut Here", as coisas tivessem sido diferentes. "But 'If only' is a wish too late."

"I should've stopped to think - I should've made the time
I could've had that drink - I could've talked a while
I would've done it right - I would've moved us on
But I didn't - now it's all too late
It's over
And you're gone.
"

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