quinta-feira, 16 de setembro de 2010

A Escala 007

Na década de 50, quando James Bond entrou para o inconsciente coletivo e universal como o estereótipo do perfeito espião, Sir Ian Lancaster Fleming havia imaginado um personagem elegante, refinado e charmoso, além de ter todas aquelas habilidades de um verdadeiro agente secreto do MI-6.
Um oficial da Inteligência Militar britânica com licença da Rainha para matar e capacidade de executar suas missões de maneira eficaz e sutil.


Da mesma forma, há anos imagino a progressão da intimidade (escatológica) nos meus relacionamentos amorosos ao estilo 007.
A condição básica a respeitar é a de que se pode falar sobre tudo, mas deve-se agir com a maior discrição possível. Pois, ainda que seja parte normalíssima do sistema digestimo do Homem (toda pessoa coloca para fora, de 12 a 25 vezes por dia, cerca de um litro de uma mistura gasosa contendo sulfetos, ácidos graxos e enxofre), nenhuma arma é mais mortífera, nenhum golpe é mais letal, nenhum dispositivo tecnológico é mais poderoso para aniquilar a magia e o romance de um casamento do que liberar o conteúdo comprimido na ampola retal violenta e ruidasamente.

Então, como deixar a natureza seguir seu curso sem começar uma guerra fria doméstica e transformar o ambiente familiar num campo de batalha fétido e pestilento?

Sem dúvida, é quase uma missão impossível, mas como cinéfila profissional e apaixonada por boas estórias de espionagem, resolvi implementar as regras fleminguianas na minha casa e adotar a escala 007, quando o assunto envolver os sub-produtos da digestão.

Tenho certeza de que o jornalista e escritor londrino pensou um pouco em si próprio (ele mesmo fez parte do Serviço de Inteligência da Marinha britânica durante a Segunda Guerra Mundial), quando descreveu seu personagem fictício e, provavelmente, ficaria desapontado em ver a mais recente versão de James Bond.
Na verdade, o criador do agente 007 morreu em 1964 e só pode ter visto a adaptação cinematográfica de Dr. No, lançada dois anos antes.

Até hoje, foram seis os atores “oficiais” que personificaram o espião de Fleming (Sean Connery, George Lazenby, Roger Moore, Timothy Dalton, Pierce Brosnan e Daniel Craig) e, à medida que o tempo passou, eles parecem ter se tornado mais vulgares e grosseiros e menos elegantes e sofisticados.

Como num casamento... Quando o charme e a sedução iniciais dão lugar ao hábito e à indiferença. É por isso que a utilização da escala 007 pode ser muito útil para avaliar o nível de romance num relacionamento. Quanto mais próximo do galã escocês, melhor. Porque sua atuação é uma prova de que não é preciso explosões e efeitos especiais para completar a mal-vista e mal-cheirosa missão digestiva. Bastam astúcia e discrição.
E menos feijão, repolho, carnes e ovos na dieta.

E se o barulho for inevitável e você for flagrado e surpreendido em plena ação, sem tempo para o plano de fuga, desvie a atenção do inimigo com um romântico e inesperado beijo à moda de Bond, James Bond.
Pois sempre haverá Um Novo Dia Para Morrer.

Um comentário:

Anônimo disse...

Assunto que rende esse, não é?
E o mais interessante é o modo como cada um lida com isso... Pra alguns atrapalha a "magia" da convivência, pra outros, não. Enquanto eu lia teu texto, lembrei-me da fantasia que tinha quando eu era criança, pensava que a Xuxa (sim, eu gostava da Xuxa) não fazia cocô. Vê se pode?
Hoje encaro tudo isso de forma bem natural... Até porque não conseguimos desenvolver aqui em casa as técnicas da escala 007. Será que ainda dá depois de tanto tempo de casada? ;-)
Olha este artigo sobre isso. É bem legal:
http://boucheville.blogspot.com/2010/07/saiba-que-todo-mundo-faz-coco.html

Beijocas, minha linda!