terça-feira, 28 de setembro de 2010

Ode Às Fezes

As pessoas que me conhecem e sabem da minha obsessão por escatologia (só não gosto de estórias de vômito, porque, desde a gravidez, esse é um tópico que não me desce muito bem) já devem estar se sentindo desconfortáveis com a frequência com a qual abordo o assunto. Consigo até ver minha mãe balançando a cabeça em reprovação toda vez que ela se depara com um texto meu nesse sentido e dizendo, cheia de culpa, que deveria ter me deixado brincar mais com terra durante a minha fase anal...

E, mesmo tentando escrever com certa elegância e evitando palavras de baixo calão, quem não me conhece deve ficar, no mínimo, surpreso, senão horrorizado com a recorrência do tema neste espaço.

Mas, pra mim, é inevitável.

Se antes da minha filha nascer ele já se encontrava entre os meus cinco favoritos, desde que a Pequena entrou na minha vida, há quase onze meses, a maior parte do meu tempo tem sido dedicada à função ou de trocar fraldas sujas ou de me preocupar se o cocô dela está da cor e da consistência adequadas: nem muito verde nem muito mole, sinais de um organismo não saudável.

E isso foi algo que eu descobri na labuta materna diária com a minha menina, pois raríssimas são as pessoas que têm conhecimento disso ou tocam no assunto abertamente e poucos são os pediatras que aconselham os pais de primeira viagem a prestarem atenção nas fezes dos filhos. Alguém por acaso sabe quantas vezes, por dia, é normal para um bebê fazer cocô? Uma? Duas? Depois de cada mamada?

Não sei se há muita gente interessada na conversa. Ninguém quer ver. Ninguém quer sequer chegar perto. Que puxem logo a descarga e levem para bem longe a prova de nossa animalidade (ou a de nossa prole).

Sim, pensamos e sentimos, mas também fazemos cocô, como qualquer animal irracional. E, na verdade, para os estudiosos e praticantes da yoga, só conseguimos pensar com clareza e sentir com profundidade se fizermos cocô. Não para purificar o corpo, mas para mantê-lo funcionando sem bloqueios e de maneira sadia: nem muito, nem pouco; nem muito duro, nem muito mole.

Assim, da próxima vez que você (que me conhece ou não) se deparar com um texto meu não-tão-elegante sobre escatologia, não faça cara feia nem se sinta ofendido. Fazer cocô é um prazer gratuito e se a questão for analisada com frieza, chega-se à mesma conclusão do meu sábio pai: “É a merda que sustenta o Homem.”

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