Não me lembro ao certo quem cantava pra mim as melancólicas cantigas de ninar brasileiras, mas sempre quando embalo minha filha para dormir, é a minha avó materna que vem à mente.
E nenhuma dessas poesias cantadas me deixa mais triste do que a história sobre duas flores que não se davam bem: uma canção popular que deve ter sido inspirada na natureza, já que é difícil encontrar as duas espécies vegetais no mesmo ambiente e sem a interferência do Homem.
Enquanto os craveiros são originários da Europa e precisam de certas condições de solo e clima para se reproduzirem, as roseiras são uma das plantas mais antigas e difundidas do mundo, tendo sido encontradas nos jardins asiáticos, mais de cinco mil anos atrás.
Enquanto o cravo conquistou simbolismos altruístas e libertários (como na revolução portuguesa de 1974), a rosa é uma flor solitária (na maioria das vezes), de poucas pétalas e caule espinhoso, além de ser culturalmente associada às emoções mais intensas do coração.
Como a minha avó e a canção que (possivelmente) me cantava, também tenho uma relação conjugal complicada.
Somos duas espécies de famílias diferentes que produziram uma geração híbrida e delicada, única do gênero. Vivemos artificialmente numa estufa europeia, afastados de nossos habitats de origem e incapazes de florescer sob as condições geográficas e climáticas do outro. Simbolizamos ideias opostas: enquanto um personifica os valores da família e da religião, o outro é a mais pura manifestação da solitude, de uma forma de vida sem raízes e com poucas responsabilidades.
Somos o cravo e a rosa brigando de uma sacada, da sala, da cozinha, do quarto e até de dentro do carro. Somos um cravo (com o orgulho) ferido e uma rosa despedaçada (no chão). Somos um cravo doente (de raiva e frustração) e uma rosa pondo-se a chorar (de ódio pela vida gregária em que se meteu).
E assim como minha avó, eu também ignorava que havia outros quatro versos nesta cantiga. Não sei se expressam o temor por um desfecho trágico para essas duas flores tão diferentes, tornando seu final mais feliz; ou se fazem uso do inevitável epílogo para toda estória infantil, quando envolve uma relação tão cheia de paixões fortes. Mas o fato é que ainda há esperança para esse cravo-da-Índia e essa rosa-brava.
E nenhuma dessas poesias cantadas me deixa mais triste do que a história sobre duas flores que não se davam bem: uma canção popular que deve ter sido inspirada na natureza, já que é difícil encontrar as duas espécies vegetais no mesmo ambiente e sem a interferência do Homem.
Enquanto os craveiros são originários da Europa e precisam de certas condições de solo e clima para se reproduzirem, as roseiras são uma das plantas mais antigas e difundidas do mundo, tendo sido encontradas nos jardins asiáticos, mais de cinco mil anos atrás.
Enquanto o cravo conquistou simbolismos altruístas e libertários (como na revolução portuguesa de 1974), a rosa é uma flor solitária (na maioria das vezes), de poucas pétalas e caule espinhoso, além de ser culturalmente associada às emoções mais intensas do coração.
Como a minha avó e a canção que (possivelmente) me cantava, também tenho uma relação conjugal complicada.
Somos duas espécies de famílias diferentes que produziram uma geração híbrida e delicada, única do gênero. Vivemos artificialmente numa estufa europeia, afastados de nossos habitats de origem e incapazes de florescer sob as condições geográficas e climáticas do outro. Simbolizamos ideias opostas: enquanto um personifica os valores da família e da religião, o outro é a mais pura manifestação da solitude, de uma forma de vida sem raízes e com poucas responsabilidades.
Somos o cravo e a rosa brigando de uma sacada, da sala, da cozinha, do quarto e até de dentro do carro. Somos um cravo (com o orgulho) ferido e uma rosa despedaçada (no chão). Somos um cravo doente (de raiva e frustração) e uma rosa pondo-se a chorar (de ódio pela vida gregária em que se meteu).
E assim como minha avó, eu também ignorava que havia outros quatro versos nesta cantiga. Não sei se expressam o temor por um desfecho trágico para essas duas flores tão diferentes, tornando seu final mais feliz; ou se fazem uso do inevitável epílogo para toda estória infantil, quando envolve uma relação tão cheia de paixões fortes. Mas o fato é que ainda há esperança para esse cravo-da-Índia e essa rosa-brava.
“[...]O cravo fez serenata
A rosa foi espiar
As flores estão felizes
Porque eles vão casar.”