sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Home, bitter home

Sete horas da manhã e eu já estava acordada de uma noite mal-dormida, por causa da minha filha ligeiramente gripada na noite anterior. O corpo ainda pedia descanso, mas não havia tempo a ser encontrado para reclamações.

Malas prontas e deixamos nossa cidade três horas mais tarde, rumo à capital do Rio Grande do Sul. Cento e vinte minutos na estrada e chegamos ao aeroporto internacional de Porto Alegre para enfrentar outros 45 na fila do check-in. Ainda faltavam 7200 segundos para esperar até que nosso voo para São Paulo decolasse do solo gaúcho.

Ainda bem que a minha menina dormiu no avião.

Em Guarulhos, ela também se comportou maravilhosamente bem, das 17h às 23h25! Mamava direitinho, mas fazia cocô além do normal. Acho que sentia o nervoso da mãe por cruzar o Oceano Atlântico em 3 voos sozinha, com uma menina de colo, um laptop e uma sacola não-tão-de-mão assim.

Não consegui um carrinho de bebê da companhia aérea, mas fiquei extremamente feliz por conseguir um lugar para sentar perto do fraldário. Era ali (num espaço em torno de 3mx1m) que nós duas, com toda a nossa bagagem, nos aliviávamos. Eu, numa privada minúscula para crianças. O difícil mesmo foi passar aquelas seis horas e meia, sentir os ponteiros se arrastando lentamente pelo relógio sem ter muito o que fazer. Pelo menos, a minha menina se divertiu com os vários outros passageiros que iam, vinham e se sentavam ao nosso lado.

No avião, ela pegou no sono sem muito drama. Inicialmente e até o aviso de apertar os cintos ser desligado, no meu colo; depois, no berço montado para ela, na minha frente. E, apesar de sentar na primeira fila da classe econômica e poder esticar um pouco mais as pernas, eu não conseguia encontrar uma posição confortável para dormir. Foram doze longas horas virando de um lado para o outro, me afundando e me ajeitando no assento, contando carneirinhos, meditando, tentando ignorar o barulho nas áreas de turbulência e o ronco dos demais passageiros... até que as luzes foram acesas e o café da manhã foi servido. Já estávamos em algum ponto da Europa, perto da Alemanha e mais perto do Reino Unido.

Mas antes, tivemos que passar pelo terceiro security control: abrir malas, deixar o laptop à mão, esvaziar os bolsos, tirar o relógio, o cinto e até os sapatos, para logo a seguir colocar tudo no lugar, exausta e sozinha com uma criança de colo.

Felizmente, em Frankfurt, a espera pelo próximo voo era de apenas quatro horas. E, pelo menos, a minha menina estava descansada, de bom humor e atraindo a atenção de muita gente, inclusive de conterrâneos a caminho de algum lugar do mundo. Foi só isso o que me salvou, o que me manteve acordada e alerta por aqueles 240 minutos: contar minha longa história para uma búlgara que vivia há duas décadas no Brasil e que viaja pela Europa, de férias, com a filha brasileira.

Esqueci do tempo, esqueci da fome, esqueci do banheiro e quase esqueci do nosso voo. A meia hora de partirmos, me dei conta dele e saí correndo pelos corredores do maior aeroporto da Alemanha à procura do portão 25A para nosso embarque imediato e preferencial! Sim, pelo menos em Frankfurt, uma mãe sozinha e com uma criança de colo ainda tem prioridade na fila.

E, mais uma vez, a minha menina adormeceu no avião.

Só mais 70 minutos e estaríamos aterrissando na Inglaterra... E foi com esse pensamento, carregado de otimismo e alívio, que pedi um copinho de plástico de rot Wein ao comissário de bordo. Estava tão cansada que não precisei de mais de alguns goles para sentir o corpo amolecendo e a cabeça girando. Ou isso ou foi realmente um sonho o fato de eu ter ouvido o mesmo comissário de bordo dizer “obrigado”, ao receber de volta o mesmo copinho de plástico (agora vazio) de rot Wein, e me contar que era um dançarino brasileiro profissional com cidadania alemã fazendo bico na Lufthansa! Deve ter sido um sonho...

Pelo menos, estávamos acordando em Londres. O pesadelo parecia estar prestes a acabar, depois que o funcionário da Imigração carimbou nossos passaportes e não pediu que eu fosse à sala reservada para o Departamento de Saúde e apresentasse um teste negativo para a tuberculose. Só não tive muita ajuda dos cavalheiros ingleses na hora de levantar minha mala da esteira e colocá-la no carrinho. Mas mostrei para eles a força da mulher brasileira e fui empurrando as bagagens em direção à Exit com o coração batendo rápido e cheio de antecipação para rever... para rever... para rever... o ma-ri-do...

Where the f*** is he at? That piece of s***!!!

Foram outros 45 minutos no Heathrow, esperando pelo meu marido atrasado e perdido no terminal errado do aeroporto. Um autoproclamado viajante profissional! Só não há como proclamar e descrever as palavras que eu (suja, faminta, cansada e louca pra ir no banheiro) gritei para aquele homem que dizia sofrer tanto com nossa falta!!!

Pelo menos, estávamos a poucos quilômetros de casa.
Era apenas uma questão de minutos para abrir a porta e encontrar...
Uma bagunça e a porra da geladeira vazia!!!!

Um comentário:

Unknown disse...

Happiness and Sadness are two faces of a coin :-) Te Amo