Dia dos Bobos quando embarquei no vôo da British Airways, de Viena, com escala em Lodres, rumo a Mumbai, na Índia. Só tinha me dado conta que era primeiro de abril ao receber meu cartão de embarque com o número do portão e do meu assento.
Soava menos como uma piada e mais como um mau presságio para alguém que nunca tinha acreditado em coincidências e que estava indo para a terra que havia inventado a palavra “carma”.
Minha ansiedade mal cabia no minúsculo banheiro do avião. Não lembro se consegui dormir durante o vôo, mas lembro bem do pavor ao ver o estado do aeroporto internacional de Mumbai, ao sentir o calor do sub-continente asiático e ao me deparar com um mundo desconhecido e com palavras incompreensíveis. Foram horas de espera pelo meu vôo de conexão até Bangalore, capital do estado de Karnataka, meu destino final.
Mas não havia rostos familiares me esperando no saguão de desembarque. Na verdade, não havia ninguém me esperando. Com pudor de acordar o secretário geral da ONG no meio da madrugada, não avisei ninguém sobre o horário da minha chegada. Só não estava mais sozinha, porque minha fiel companheira de tantas aventuras (minha Samsonite de 23 litros que me acompanhava desde 1996) estava sólida e resistente ao meu lado. E foi sentada nela que liguei do telefone público do aeroporto para a FSL e balbucei meu nome num inglês paupérrimo e com sotaque latino.
Estava tão nervosa em atender às expectativas feitas a partir do meu currículo e ansiosa em agradar que não consegui descansar da viagem. Afinal de contas, eles haviam pagado pela minha passagem e eu tinha que mostrar algum trabalho e muita gratidão. E por isso, sem pensar muito nas consequências, acabei assinando (naquela mesma noite do Primeiro de Abril) um contrato ilegal de trabalho com a ONG, cuja quebra de cláusula me obrigava a reimbolsar todos os gastos feitos pela organização, em espécie e com juros.
Na manhã seguinte, não era mais Dia dos Bobos, mas eu me sentia uma completa idiota.
E toda aquela situação soava menos como um mau presságio e mais como um carma a ser pago, parceladamente, nos meus dez meses seguintes.
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