quarta-feira, 31 de março de 2010

Éramos muitas

No começo de abril, éramos três voluntárias na FSL. Eu, como coordenadora dos acampamentos de curta duração; a Peggy, como coordenadora dos projetos mais longos; e a Sabine, uma ex “team lider” com já alguma experiência na organização e perita em reclamar das coisas da Índia e das “curry leaves”, típicos temperos da culinária de Karnataka.



Éramos três ocupando dois quartos no segundo piso do prédio da ONG: a Peggy – volunatária mais antiga - sozinha em um; eu e a Sabine, no outro. E foram aqueles 40 centímetros que separavam nosssos colchões no chão que, de fato, nos aproximaram. Além de dividir o mesmo espaço físico, passamos a compartilhar confidências, trocadas debaixo do barulhento ventilador de teto.



No fim de abril, chegou a Astrid e, em maio, a Kanako. Éramos quatro num único quarto. Pelo menos, tínhamos mais em comum do que aqueles poucos metros quadrados: o yoga, e bem cedo pela manhã. Era nossa maneira de transcender os problemas diários que se avolumavam (quem seria a primeira no chuveiro; quem limparia o banheiro naquele dia; quem faria as compras da semana; quem cuidaria do almoço e da louça suja) e acalmar nossas mentes e corpos cansados de dormir apertados num colcão sobre o chão duro.


Em junho, a Kanako saiu para liderar um acampamento e chegou a Mareike. No final daquele mesmo mês, era a vez da Sabine voltar pra casa e de recebermos a Uli. No início de julho, perdi a conta... Eram muitos os nomes e rostos novos para memorizar por apenas alguns dias ou semanas. Eram sotaques diferentes, nacionalidades diferentes e roupas diferentes deixadas no varal do segundo piso do prédio da FSL.


Quando o Thiemo e o Charlie (namorado da Astrid) finalmente chegaram de visita, trocamos de quarto com a Peggy e passamos, os quatro, a dividir o mesmo chão e as mesmas quatro paredes. Foi estranho... Quase incestuoso... Mas conseguimos desenvolver estratégias para não atrapalhar o casal vizinho. Quem não gostou muito da troca foi a Peggy. Era ela quem precisava lidar com as voluntárias que chegavam e saíam.


Mas, no escritório da organização, continuávamos três: eu, a Peggy e, agora, a Astrid.
E tínhamos tanto em comum que, no final de agosto, eu e a Astrid deixamos nossos colchões no quarto apertado da ONG e fomos morar sozinhas...

Por pouco tempo. Em dezembro, já éramos muitos.

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