Ultimamente, nada me deixa mais infeliz do que fechar a porta de casa, às oito e meia da manhã, depois de dar um beijo de despedida no meu marido e desejar-lhe um bom dia de trabalho.
É o prelúdio da minha agonia.
Ainda com a mão esquerda na chave, olho para a minha filha pendurada no outro braço e sofro em pensar nas dez longas horas que teremos pela frente, sozinhas.
Era tudo o que eu queria cinco meses atrás, mas sinto que estou pagando um preço bem alto pelo meu egoísmo de então: ter a minha menina só para mim, nos seus primeiros anos de vida; formar com ela um vínculo tão intenso que ninguém, nem uma cultura ou religião, seria forte o bastante para desfazê-lo.
Mas o plano não está saindo da maneira que eu havia imaginado.
Na verdade, saiu foi pela culatra e ela está tão apegada à pessoa que mais vê e escuta todos os dias, que somente para de choramingar quando aconchegada no meu colo. Ela, inclusive, já demonstra sinais claros de ciúmes ao ver os pais abraçados ou a mãe (tentando) dar alguma atenção ao trabalho, doméstico ou de tradução.
O pior é que nem na sagrada hora do banheiro eu tenho conseguido fica em paz, a sós. Principalmente se for durante o período de ausência do marido, pois preciso ficar de olhos bem abertos nas aventuras exploratórias da minha filha. Agora que aprendeu a se virar e a engatinhar por todos os lados, ela quer investigar os cantinhos mais recônditos da casa, as gavetas, os armários, as mesinhas de cabeceira e tudo o que encontrar pelo caminho. E como adora o fio do mouse, da webcam, do aspirador de pó e do ferro de passar!
Não sei mais o que fazer. Ou ela se acaba de tanto chorar e me encho de culpa, ou ela consegue o que quer, fica no meu colo e eu me encho de culpa. Tenho tido tanto pavor dessas frequentes sessões de grito e histeria que chego a segurar a respiração e a caminhar na ponta dos dedos toda vez que ela tira o cochilo da manhã e da tarde, por medo de acordá-la!
Parece um beco, aparentemente, sem saída.
Como estou decidida a não deixá-la com estranhos até ela aprender a falar (por experiência própria sei que um adulto não dá conta de uma única criança, quanto mais de outras quatro ou cinco, como acontece nas creches do mundo todo! Ela, certamente, seria negligenciada.), só penso em importar meus pais aposentados do Brasil, para me ajudarem a cuidar dela.
Pai, Mãe, prometo publicamente que ofereço casa, comida, roupa lavada, as passagens aéreas para Oxfordshire, tudo para, enfim, poder ficar algumas horinhas do dia a sós.
2 comentários:
Acho que seria mais fácil tu e a Pequena voltarem para o Brasil.
Pili
Fêr, é só uma fase, vai passar!
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