Quando o assunto envolvia maquiagem, eu era igualmente desinteressada e até com um brilho bem clarinho eu já me sentia meio esquisita.
Mas eu tive uma boneca Barbie, a sua casinha e uma porção de roupas diferentes com as quais eu brincava e tinha devaneios até os quinze anos de idade. Foram momentos lúdicos que cultivei até entrar, em definitivo, no mundo dos adultos.
Aos trinta as coisas mudam.
Por mais que se esteja em forma, o corpo e a pele não são mais os mesmos da década anterior. A juventude ainda não está de todo perdida, mas já apresenta sinais de deterioração.
E, aos poucos, eu também fui mudando, assim que me tornei uma balzaquiana.
Primeiro foi o delineador indiano, o kajal.
Impossível ficar indiferente aos padrões de beleza de um país, quando se está há tanto tempo submersa em outra cultura. Mas o que realmente me fez aderir ao produto (à base de galena moída) foi o fim da minha estada de um mês numa instituição que ensinava ioga. Com a cabeça raspada, eu queria desviar a atenção das pessoas para os meus olhos e não pra falta de cabelo.
Em seguida, comecei a fazer uso da base, do pó compacto e do batom para atenuar as cicatrizes de acne e conseguir dar minhas aulas de inglês, com confiança, para os homens de negócios de Beagá. Cheguei bem perto de usar salto alto, mas esse doloroso objeto de desejo do sexo feminino ainda é incapaz de me seduzir.
A verdadeira transformação, no entanto, começou agora, com o nascimento da minha filha. Eu nunca quis outra Barbie aos trinta e cinco anos e sentia completa indignação quando algumas mulheres me diziam que era melhor ter uma menina, que era mais fácil de vesti-la e enfeitá-la!
Eu até que resisti bastante e ainda tento manter o azul, o verde e o amarelo no guarda-roupa da minha Pequena, mas há algo tão genuinamente infantil e inocente a respeito do rosa que acabou subjugando meu feminismo teimoso e me levando para o estereótipo dominante.
Ainda mais com aquelas bochechas rechonchudas, imensos olhos castanhos e longos cílios de boneca.
Ainda mais com aquelas bochechas rechonchudas, imensos olhos castanhos e longos cílios de boneca.
Ela fica linda de qualquer jeito, mas essa cor simplesmente tomou conta da casa, do banheiro, do chão com seus brinquedos espalhados e do meu armário... Vinte anos depois daquele primeiro vestido rosa-choque de algodão e influenciada pela minha filha, me dei o direito a esta indulgência e a dar vazão à minha negligenciada menina interior e, atualmente, durmo com uma confortável camisola rosa-bebê, com ursinho bordado e tudo.
Minha vida pode não ser um mar de rosas, mas foi invadida por todas as matizes dessa cor.
2 comentários:
Seria simplesmente preconceito de cor?
Eunara
Ah! É tão lindo o rosa! Eu sou suspeita, né? Matizes de rosa e de lilás predominam no meu guarda-roupa... É uma cor tããão feminina!
Beijos cor-de-rosa, ;-)
Aline
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