Primeiro, ela firmou o pescoço e passou a sustentar a própria cabeça. Depois ela tentava ficar sentada, com e sem apoio nas costas. De bruços, ela começou com chutes para impulsionar o corpo pra frente até que conseguiu sair do lugar rastejando e, mais tarde, engatinhando. Em pouco tempo, ela foi se agarrando nos pés das cadeiras, nos cantos do sofá e nas alças das gavetas para ficar de pé. E não vai demorar muito para dar os primeiros passos sozinha.
É claro que houve alguns solavancos pelo caminho e incontáveis tombos, mas tudo transcorreu da maneira mais natural possível, graças aos aminoácidos de 23 pares de cromossomos, sintetizados e programados para desencadear o maravilhoso processo de desenvolvimento no organismo do ser humano. Mas os únicos maravilhados com o incrível trabalho dessas microscópicas substâncias celulares são os pais da criança e não a própria, que age com a mais infantil naturalidade e quase indiferença às mudanças pelas quais passa o próprio corpo.
Pra ela, o que de fato causa maravilhamento são outras minúsculas descobertas no mundo exterior: um fio de cabelo, um farelo de bolacha, um fiapo de roupa achados ao acaso no chão, durante suas expedições exploratórias pelos cantinhos da casa.
No entanto, nada é tão fascinante pra minha filha do que um dos mais simples e extraordinários elementos da natureza, formado por duas moléculas de hidrogênio e uma de oxigênio, a água.
E a água do banho parece ser fonte inesgotável de espanto e admiração.
E arrisco a dizer que são os melhores e mais esperados quinze minutos do seu dia. Ela se diverte mais numa banheira repleta desse líquido informe, incolor, insípido e inodoro do que com qualquer outro brinquedo de última geração, cheio de luzes estroboscópicas e sons espalhafatosos. Mas o que mais diverte sua mãe são suas tentativas ingênuas de segurar a água correndo da torneira com seus dedos pequeninos e aflitos e seu olhar intrigado com essa maravilha da natureza.
E durante aqueles quinze minutos diários, sentada ao seu lado e contemplando o encantamento sem fim no rosto da minha filha, duvido que aminoácido algum seja o verdadeiro responsável pelo o que dá impulso à caminhada do Homem: a curiosidade.
Um comentário:
Estava agora mesmo preparando uns textos para um sarau, sobre um escritor italiano, maravilhoso!, que se chamava Gianni Rodari. Ele escrevia para as crianças, textos lindos e sensíveis. No poema "Il treno dei bambini", ele diz: "Senhores pais, se vocês querem viajar, façam-se acompanhar" (de suas crianças). Pois as crianças se maravilham com tudo, observam, brincam o cotidiano. Elas estão conectadas com o sagrado da vida.
Grande beijo
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