sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Carma hindu-brasileiro

Eu sou péssima para me lembrar de aniversários, mas há certas datas impossíveis de esquecer na minha vida.

Era a manhã de 22 de fevereiro de 2009 e estávamos no meu minúsculo apartamento em Bangalore. Eu já estava de pé, me vestindo, enquanto ele permanecia deitado na cama, com seus longos cabelos negros espalhados pelo travesseiro. Quando virou o rosto para me observar, eu falei (meio que instintivamente e sem refletir muito) que nunca mais ficaríamos sozinhos daquela maneira.

Eu já estava grávida de uma semana. Mas não sabia. Não conscientemente.

Só fui ter certeza depois de comentar com uma amiga (também de forma casual e quase de brincadeira) que não menstruava há várias semanas. Umas seis, se a memória não me falhava. Mas como o meu ciclo era bastante irregular sem o uso de anticoncepcional, não havia motivos pra preocupação. De qualquer forma, ela me sugeriu fazer um teste caseiro de gravidez.

E eu fiz. Na manhã do dia 19 de março.

Deu positivo, mas o resultado “apareceu” tão mais rápido do que os 120 segundos descritos na bula, que precisei de uma segunda opinião para acreditar. E uma terceira. E quarta...

Assim, dois testes de urina, um exame de sangue e um ultrassom intra-vaginal mais tarde, eu estava inequivocadamente convencida da presença de um feto em formação no meu útero. Ou quase.

Mesmo com as evidências científicas em mãos, os enjoos matinais e o constante cansaço, eu não conseguia me ver como mãe. Na verdade, não conseguia nem ver uma barriga crescendo! Eu só engordei onze quilos e a maioria deles no último mês de gestação. Pra mim, parecia, apenas, um pouco de gordura além do normal. É certo que uma gordura mais rija e menos flácida, mas, ainda assim, bem semelhante ao tecido adiposo.

É, minha negação durou as 39 semanas de gravidez e, frequentemente, eu me atormentava com a ideia absurda de deixar a maternidade de braços vazios! Mas havia, de fato, um bebê no meu ventre: o mais lindo que todos podiam esperar de uma mistura de genes tão fora do comum.
E ela chegou nos cumprimentando aos prantos e com seus imensos olhos castanhos bem abertos.

Desde então, não conseguimos mais ficar sozinhos daquela maneira, como um despreocupado casal de namorados.

E se engana quem pensa que filho é um ser inocente que não pediu para nascer. Como diz a minha mãe: “Pediu sim”. Implorou talvez. E, agora, somos três nesta jornada cármica a aprender e ensinar várias lições uns para os outros.

E a manhã de 6 de novembro é mais uma data que jamais esquecerei, pois foi quando meu carma hindu-brasileiro veio ao mundo.

Um comentário:

Ana Dos Santos disse...

vamos transformar esse "karma" em "dharma" , conhece uma banda gaúcha que se chama "the dharma lovers"? bj