quinta-feira, 29 de julho de 2010

Há malas que vêm de trem

Nos últimos quinze anos, aprendi (e também desaprendi rapidamente)
três línguas estrangeiras. E sempre achei que a prova mais importante e contundente para testar minha fluência era uma conversa ao telefone, porque não haveria possibilidade alguma de usar a linguagem corporal.


Até que precisei aprofundar meus conhecimentos de inglês e tive que estudar as expressões idiomáticas. E agora tenho certeza de que somente aqueles que as dominam tão bem quanto os nativos e as utilizam naturalmente no dia-a-dia podem se considerar fluentes.
Eles enriquecem, dão cor à língua.
Mas é um feito que pode levar muito tempo...

Por baixo, diz-se que há cerca de 25 mil delas entre os brits, yankees, aussies, kiwis e paddies. Assim, se alguém quiser entrar nessa maratona linguística, decorando uma média de 10 por dia, levaria quase sete anos para tê-las na “ponta da língua”. E aí está a beleza do português falado no Brasil. Não apenas temos nossa própria cota de expressões idiomáticas e ditados populares, como também a criatividade de fazer trocadilhos com eles.

Um exemplo seria o “há males que vêm para o bem” e seu correspondente em inglês “a blessing in disguise”. Tenho sérias dúvidas de que, algum dia, venha a ouvir ou ler um “pun” do tipo “a blessing in a halloween costume”, mas o que os brasileiros foram capazes de fazer com o provérbio citado acima é (infame, sim, mas) talvez único de nossa culttura.
A perversão traz conforto ao ouvinte, sem passar uma lição de moral maçante ou um ensinamento religioso inoportuno, que era a função original dessas máximas populares.

E foi exatamente alívio o que senti dois ou três dias depois de ter perdido minha primeira oportunidade no mundo editorial. Graças àquela recusa, fiquei livre para trabalhar em algo que sou muito mais apaixonada: na tradução de um filme. Na verdade, dos extras para o DVD da nova versão de Predadores.
Foi pertíssimo e ainda chego lá, porque “quem ri por último, ri melhor”.

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