Cento e noventa, nove-um-um, nove-nove-nove.
Não importa o número de telefone de emergência
ou o país de onde se está ligando.
A polícia tem que ser avisada, chamada, comunicada, informada.
Qualquer uma: civil, militar, federal, rodoviária.
Não importa.
O importante é dar queixa de um desaparecimento.
Na verdade, de uma troca.
A menina de grandes olhos castanhos-esverdeados que acordou aos berros, no meio de uma madrugada, há cerca de três semanas, e que continua em nosso poder desde então, morando conosco, não é a minha filha.
Não é o bebê adorável que eu segurava nos braços e alimentava até aquela fatídica noite; que dormia tranquilamente por oito horas, sem dar trabalho, sem incomodar, sem fazer barulho e sem acordar os cachorros dos vizinhos. Até mesmo na minha barriga, durante o sétimo e oitavo meses, ela era consideravelmente quieta!
Não, a minha Pequena foi levada de nós e substituída por esse pequeno ser notívago, berrante e chorador; essa criatura rastejante que nos tira horas preciosas de sono e me impede de funcionar adequadamente durante o dia.
Ou isso ou os primeiros dentes estão despontando no horizonte gengival, o que seria um alívio para uma mãe que tinha orgulho de dizer que a filha dormia todas as noites, por volta das nove, depois de um banho de banheira, uma massagem a óleo e uma mamadeira com leite morno.
Mas tenho certeza de que, qualquer que seja a razão pra essa repentina e insuportável mudança de humor, alguém vai acabar chamando a polícia: ou os pais da criança ou um dos vizinhos irritado com a perturbação noturna.
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