A lista é comprida.
Já fui aluna e já ensinei português para estrangeiros; já servi mesas e já servi refugiados da Cruz Vermelha; já cuidei de crianças e já empurrei gente idosa em cadeira de rodas; já quebrei parede e já colhi espinafre numa fazenda auto-sustentável; já fiz faxina e já lavei pratos pra sobreviver no exterior; já raspei a cabeça e vivi um mês num mosteiro e até já fui homem numa festa à fantasia...
Já fui várias mulheres. Hoje sou filha e também sou mãe.
E a mãe de uma criança grande o bastante para não poder mais ser carregada por muito tempo, mas ainda pequena pra caminhar. Em outras palavras, para irmos até a esquina com a nossa menina, tenho que preparar uma mala pra ela com, pelo menos, uma muda de roupa e um casaquinho (no caso da temperatura cair), meia dúzia de fraldas, lencinhos úmidos, creme contra assaduras, trocador portátil, leite em pó, água fervida e filtrada, duas mamadeiras limpas, chupeta pra acalmar a ferinha e todos os brinquedos que pudermos carregar para entretê-la fora do colo. E, quando planejamos uma atividade em família mais longa ou um passeio mais distante do nosso vilarejo, ainda levamos conosco o assento de bebê para carro e o super-Hulk-carrinho-verde, equipado com mesa e uma monstruosa cobertura plástica contra chuva e vento. Às vezes, não dá nem vontade de sair de casa...
Mas ela precisa conviver com outras pessoas além dos pais e, assim, aceitamos com prazer o convite inusitado de participar de um casamento muçulmano transmitido pela Internet (já que os pais da noiva e do noivo estavam no Paquistão e na Índia, respectivamente, e eles, na Inglaterra).
Chegamos um pouco atrasados pra cerimônia porque foi difícil encontrar um presente de última hora, mas tivemos uma tarde muito agradável com os outros convidados, na sua maioria homens indianos de diferentes partes do Sub-continente.
E foi com eles que descobri que agora, depois de casada, também sou bhabhi, a cunhada. De todo o mundo, mesmo sem nem um parentesco com o meu marido! Parece ser uma tradição entre os bons amigos de se tratar como irmãos. O perigo é que, igualmente comum na cultura hindu, é considerar a cunhada como meia esposa!
Posso ter sido todas as mulheres; mas não vou ser a mulher de todos.
Um comentário:
Tens a capacidade de me surpreender.... Continua !
Aguardo todoas as noites teus textos ! Bjão. da Dinda Su
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