Ela tem o estilo literário que eu aprecio, adornando os acontecimentos mais banais do cotidiano de qualquer pessoa com um pouco de ironia e comicidade. Clare Dowling é uma irlandesa de 42 anos que atua dentro e fora dos palcos do seu país. Ela é atriz, dramaturga, escritora infantil e autora de vários best-sellers na Irlanda, entre eles “Just the three of us” que estou tentando ler há algumas semanas.
Não tem sido uma tarefa muito fácil com uma menina de 8 meses, um marido ocupado e uma casa de dois andares para cuidar, alimentar e limpar (não necessariamente nesta ordem). Às vezes, só tenho tempo para dar continuidade à minha leitura na privacidade do banheiro e considero uma conquista já ter conseguido ler um terço do livro.
Mas a mulher e mãe de duas crianças entenderia minha dificuldade.
Suas personagens femininas passam por situações semelhantes e, nesta obra em particilar, elas estão num triângulo amoroso nada convencional.
Debs não é a típica terceira ponta de um polígono afetivo.
Ela é uma balzaquiana bem acima do peso (“tem quadris tão largos quanto o guidão de uma bicicleta”, segundo palavras da própria Clare), sem carro, com um emprego insignificante e morando num apartamento alugado numa zona pouca nobre de Dublin. O romance começa de forma acidental e depois de muitos sanduíches de presunto e salada, consumidos num banco do parque próximo ao escritório de ambos.
O que me fascina, no entanto, é a esposa traída, Geri.
Na verdade, o que sinto por ela é uma profunda empatia; uma identificação ao nível mais orgânico e celular possível; uma quase deferência por esta mãe e esposa de quarenta e poucos anos, que trabalha na enfermaria de um hospital, trocando fraldas e roupas de cama de pacientes terminais. Ela tem uma rotina tão atarefada que só percebe os sinais do tempo (“pés de galinha ao redor dos olhos e asas de morcego embaixo dos braços”) e da traição no casamento, depois que o tango já tinha começado e os três dançarinos estavam no meio da música.
Mas, pelo tom do livro, duvido muito que esta dança mergulhada na tristeza apaixonada do Rio da Plata seja a trilha sonora apropriada para este triângulo irlandês. Clare Dowling parece ter a habilidade de colocar em palavras o espírito celta que ainda domina a Irlanda atual.
Assim, esqueçam Carlos Gardel e suas cabezas.
Este romance vai acabar em sapateado e gaita de foles, com Lord of the dance de Riverdance tocando ao fundo.
Para saber mais sobre a autora irlandesa e a dança folclórica de seu país, visite os sites:
http://www.claredowling.co.uk/
http://www.youtube.com/watch?v=tpG6S_iF3x8
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