Não é canja de galinha nem creme de ervilha, mas, desde os dezesseis anos, sou eu que estou boiando numa sopa de emoções, temperada com meus próprios hormônios.
E em nenhum momento, desde aquela época, a refeição foi tão indigesta do que nas minhas 39 semanas de gravidez. Como se as crises de identidade e as dúvidas sobre a maternidade não fossem suficientes para desestabilizar a saúde mental de qualquer mulher, ainda tive que lidar com um caldo hormonal difícil de engolir.
Assim, além dos conhecidos estrógeno, progesterona e testosterona, minha corrente sanguínea foi inundada com o folículo estimulante, o beta-HCG, o melanotrófico, a aldosterona e o lactogênio placentário humano. Só não experimentei uma pitada da dolorosa oxitocina, porque optei pela cesariana antes de entrar em trabalho de parto.
Mas o que ajudou bastante, naquele período, foi inserir mais uma letrinha à sopa de hormônios femininos: a endorfina. Não produzida pelo consumo de chocolate (já que passei por uma estranha e inusitada fase salgada durante a gestação), mas com a prática excessivamente desaconselhável de exercícios físicos. Acho que frequentei a esteira do condomínio até um mês antes de dar à luz.
Entretanto, quase onze meses mais tarde, ainda sofro de indigestão a cada quatro semanas, agora de volta aos ingredientes básicos do caldo hormonal. E sempre quando meu marido está incomunicável e cheio de trabalho e eu estou em casa, a sós com a minha filha... Já sem paciência, sem energia e sem condições emocionais de segurar o choro. De repente, o mundo inteiro se transforma num lugar cruel e inóspito e a minha vida, num beco sem saída. Permaneço ali, ao lado dela, prostrada no chão e sem forças para reagir, apenas permitindo que as lágrimas saiam e corram pela face, até se cansarem sozinhas e cessarem.
Por experiência própria, sei que isso não é algo muito nobre para se testemunhar. Parece muito mais com um momento de fraqueza do que de fragilidade. E eu só fui entender a minha mãe depois que me tornei uma.
Espero, somente, que o meu estoque de sopa esteja perto do final, para que a minha menina não precise ter os próprios filhos e sentir, no corpo todo, os efeitos que as letrinhas hormonais podem causar.
Um comentário:
depois de viver uma gestação cheia de prazer e ver a vida colorida..descobri que no exato momento em que o parto é realizado a taxa de hormônios cai drasticamente...TODAS sofrem de depressão pós-parto, é FATO!
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