quinta-feira, 15 de julho de 2010

Foi por pouco

Foram quase 100 horas. Noventa e seis, pra ser mais exata.

Este foi o tempo que estive no mundo editorial como tradutora.

Quatro estimulantes dias de conversas telefônicas internacionais, transferência de dados bancários e de arquivos por FTP, além de muita pesquisa na internet.
Já podia até ver meu nome e sobrenomes de solteira (que mantive) e casada impressos na obra delegada.
Cheguei inclusive a encomendar a versão inglesa, mas nem tive a oportunidade de sentir o cheirinho de papel saído do prelo, quando recebi o balde de água geladíssima no corpo inteiro.
O prazo que eu havia estimado para entregar o livro traduzido era inviável para a editora.

A alegria teve, assim, vida curta e só me resta agora esperar pela fatura da companhia de cartão de crédito e pela sorte baterem (novamente) à minha porta.
Apenas o sentimento de tristeza foi imediato.
E fiquei tão desanimada que pensei em sair na chuva que caía desde a madrugada, procurar uma poça na rua bem grande e me afogar nela, ali mesmo. 

Era preciso enterder, bem depressa, o porquê da melancolia...

Eu simplesmente não podia mergulhar neste projeto e esquecer a minha vida, a minha filha, meu marido e todos os afazeres domésticos dos quais tomo conta sozinha.

Mas também não posso me tornar a imagem e semelhança da minha sogra, uma mulher que inspira, no mínimo, pena e que transpira muita frustração. Uma jovem sonhadora que, assim como eu, frequentou uma faculdade e, provavelmente, lia, escrevia e falava inglês com fluência. Uma mãe que, alegadamente em nome da família, desistiu de tudo o que estava além das paredes ar-condicionadas de sua casa em Nova Déli. Um (quase) vegetal, sem cuidados especiais, que escolheu murchar, lenta e dolorosamente, na frente da televisão assistindo ao seu programa religioso diário.

Fiquei triste porque, tanto eu quanto minha menina, vemos, com muita frequência do outro lado da tela do computador, o vulto do que outrora deve ter sido uma pessoa cheia de vida. Uma sombra esquálida e despenteada, com olheiras profundas, sobrancelhas abatidas e um olhar terminal.
Fiquei triste porque ainda não foi desta vez que pude mostrar um modelo diferente pra minha filha: o de uma mulher e mãe não tão jovem, mas que também é uma profissional com realizações e projetos. Ou seja, um ser vivo do sexo feminino respirando feliz.

4 comentários:

Dinda Su disse...

Não desanima , querida !
Há tempo para tudo e no
tempo certo ... Vai cons-
truino teu caminho dia
após dia ! bjo. da Dinda Su

Dinda Su disse...

Não desanima , querida !
Há tempo para tudo e no
tempo certo ... Vai cons-
truino teu caminho dia
após dia ! bjo. da Dinda Su

Anônimo disse...

Querida! Não foi desta vez, mas será quando tiver que ser. Não desanima e não esquece de teus sonhos. Sabes exatamente o que não queres pra ti, tens um modelo bem concreto do que evitar na vida, e saber o que a gente não quer na vida já é mais de meio caminho percorrido. Honra a tua força e a tua energia feminina! A tua chama não vai se apagar. Bjos

Ana Dos Santos disse...

tu não é nem nunca vai ser como ela, eu digo porque vivo uma situação semelhante!