quarta-feira, 7 de julho de 2010

Mãe com "m" pequeno

Melanie se tornou Klein em 1903, aos 21 anos. Mas seu casamento com Arthur não conseguiu apagar uma infância marcada por perdas ou afastar a presença materna opressiva e tirânica. Nem mesmo quando ela teve os próprios filhos.


Talvez, na intimidade daquela família austro-judaica cheia de problemas, a pequena Melanie tenha sentido na pele o que chamaria mais tarde de “o seio bom e o seio mau” da mãe. Ou seja, do difícil e incoerente exercício da maternidade.

Se antes eu apenas apontava dedos acusatórios, agora preciso de anos de análise para embotar meu sentimento de culpa em relação à minha filha. Desde as primeiras semanas de gravidez, eu já carregava (não apenas no ventre, mas também nos ombros) quilos extras pelas minhas faltas deliberadas contra aquele feto em formação. Eu parei com o consumo de bebidas alcoólicas e comecei a tomar suplementos de ácido fólico, ferro e cálcio, mas não consegui abrir mão da minha xícara diária de café instantâneo. E o risco de um bebê abaixo do peso não saía da minha cabeça...

Depois foi o parto. Sem a maturidade emocional para dar à luz da forma que a natureza planejou, optei pela cesariana. Não tenho remorsos quanto a isso. Foi a melhor escolha pra mim na época e, se a minha Pequena veio sem dor, ela deixou comigo uma cicatriz de sua chegada ao mundo. Para sempre.

A amamentação, no entanto, foi um golpe. Ela até que tentou mamar e eu até que estava cheia de boas intenções, mas quando o leite empedrou e eu me vi perto de uma mastite, fui desistindo desta outra função materna, com um aperto no coração e mais um pouco de culpa.

Mal sabia eu que o pior ainda estava por vir: o NÃO assertivo, categórico e definitivo, sem meio-termo ou negociações. "Não pode comer isso; não pode tocar naquilo; não pode fazer um monte de coisas."

Chegou a hora de tentar dar o peito novamente pra minha filha. Desta vez, o mau. E com ele, todo o pacote para educar uma criança: palmadas, castigos, punições, olhares de reprovação...
Temo mais um fracasso redundante no desempenho da maternidade, porque não consigo deixá-la chorando sozinha no berço, mesmo sabendo que é pura manha e que ela só quer atenção.
Sou igualmente incapaz de pronunciar o tal NÃO contundente ou de permanecer séria depois de mandá-la ficar quieta.

Nem o bom nem o mau parecem funcionar da maneira que Melanie descreveu em sua teoria. Não sou klein, mas os seios pequenos se devem a uma mamoplastia redutora feita dez anos atrás, diminuindo, também, o "m" do meu mãe.

3 comentários:

Helo disse...

Muito bom!
Que Melaine Klain te ilumine no equilíbrio entre o amor do seio bom e a frustração do seio mau!

Anônimo disse...

Pelos comentários sobre tua experiência como mãe, és uma mãe com M...

Unknown disse...

Na dúvida prefiro calar...mas tu és incrível menina !!!!