Pela primeira vez em dois anos, um mês e vinte e poucos dias, estou saboreando a maternidade em sua plenitude.
Não passei por essa sensação durante a gravidez.
Ao invés disso, estava me virando sozinha na Índia, trabalhando no turno da noite, sendo despejada do meu apartamento em Bangalore por apresentar uma barriga e (ainda) ser solteira, tentando me unir legalmente ao pai da criança às pressas e às escondidas (já que os pais dele não queriam aceitar o casamento e eu temia um nome em branco na certidão de nascimento da minha filha), me apavorando com o abismo cultural que nos separava e que eu só fui vislumbrar quando meus sogros finalmente abriram a porta da frente da família e eu estava com quase 6 meses de gestação.
Depois, voltei para o Brasil e ela entrou na minha vida com um corte profundo.
E eu continuava incapaz de ter a tal sensação. O sentimento que realmente começava a se alastrar pelo meu coração era a culpa. Culpa por não conseguir amamentar meu bebê com o leite que empedrava nas minhas mamas, reduzidas dez anos antes. Uma decisão egoísta da juventude estava privando minha filha do tão completo alimento materno.
Mas ela "sobreviveu", ganhou peso e foi se desenvolvendo. E o vínculo que não pôde ser formado durante a amamentação, foi sedimentado nos dois anos seguintes, quando passamos tanto tempo juntas e sozinhas que parecíamos em simbiose.
Ainda assim, eu não me sentia plena com a maternidade.
Pelo contrário, à medida que ela crescia (e aprendia a engatinhar e a caminhar), diminuíam suas horas de sono e aumentavam os espaços da casa que ela explorava curiosa e avidamente. Eu não tinha mais sossego em deixá-la sozinha. Alguns minutos de seu silêncio podiam representar um grande risco de vida. Só Deus sabia no quê ela podia estar mexendo.
Além disso, sendo sua principal fonte de amor e de atenção, meus momentos de privacidade no banheiro foram se tornando raros e os banhos acontecendo em dias alternados... Minha mãe me via no Skype e me aconselhava a não esperar o marido com cara de empregada. Mas depois de passar o dia cozinhando, limpando, trocando fraldas, lavando roupa, vestindo, penteando cabelo, tentando escovar os dentes da filha e traduzindo durante a única hora de cochilo da criança, quem quer ficar atraente e começar a terceira jornada de trabalho como esposa sensual e cheia de libido? A cama, pra mim, era só para dormir! Mesmo que fossem apenas algumas horinhas, já que ela pedia o mamá duas vezes por noite e eu custava para pegar no sono novamente. Era um inferno... Ou o purgatório, para quitar dívidas antigas e expiar culpas recentes...
Até que chegamos ao Brasil, para passar quatro semanas de férias, e me deparei com os altos e pesados portões do Paraíso, que estiveram cerrados para mim por tanto tempo e que finalmente me abriram uma brecha para entrar! SIM, mães de todas as religiões e nacionalidades do século XXI: a terra que nos prometeram ainda na concepção de nossos filhos existe! E ela se chama a casa dos avós e dos tios (sem crianças), loucos para brincar, cuidar, alimentar, dar banho, vestir, pentear o cabelo e encher de carinho nossos rebentos! Enquanto podíamos colocar o banho em dia, ir no salão, fazer os pés.
Sei que vai ser uma estada breve e que logo retomaremos nossas rotinas purgativas, mas, por enquanto, estamos as duas felizes no meio da vovó, do vovó, da pili, dos cacás, da dinda, do beto, do auau, do miau...
Não passei por essa sensação durante a gravidez.
Ao invés disso, estava me virando sozinha na Índia, trabalhando no turno da noite, sendo despejada do meu apartamento em Bangalore por apresentar uma barriga e (ainda) ser solteira, tentando me unir legalmente ao pai da criança às pressas e às escondidas (já que os pais dele não queriam aceitar o casamento e eu temia um nome em branco na certidão de nascimento da minha filha), me apavorando com o abismo cultural que nos separava e que eu só fui vislumbrar quando meus sogros finalmente abriram a porta da frente da família e eu estava com quase 6 meses de gestação.
Depois, voltei para o Brasil e ela entrou na minha vida com um corte profundo.
E eu continuava incapaz de ter a tal sensação. O sentimento que realmente começava a se alastrar pelo meu coração era a culpa. Culpa por não conseguir amamentar meu bebê com o leite que empedrava nas minhas mamas, reduzidas dez anos antes. Uma decisão egoísta da juventude estava privando minha filha do tão completo alimento materno.
Mas ela "sobreviveu", ganhou peso e foi se desenvolvendo. E o vínculo que não pôde ser formado durante a amamentação, foi sedimentado nos dois anos seguintes, quando passamos tanto tempo juntas e sozinhas que parecíamos em simbiose.
Ainda assim, eu não me sentia plena com a maternidade.
Pelo contrário, à medida que ela crescia (e aprendia a engatinhar e a caminhar), diminuíam suas horas de sono e aumentavam os espaços da casa que ela explorava curiosa e avidamente. Eu não tinha mais sossego em deixá-la sozinha. Alguns minutos de seu silêncio podiam representar um grande risco de vida. Só Deus sabia no quê ela podia estar mexendo.
Além disso, sendo sua principal fonte de amor e de atenção, meus momentos de privacidade no banheiro foram se tornando raros e os banhos acontecendo em dias alternados... Minha mãe me via no Skype e me aconselhava a não esperar o marido com cara de empregada. Mas depois de passar o dia cozinhando, limpando, trocando fraldas, lavando roupa, vestindo, penteando cabelo, tentando escovar os dentes da filha e traduzindo durante a única hora de cochilo da criança, quem quer ficar atraente e começar a terceira jornada de trabalho como esposa sensual e cheia de libido? A cama, pra mim, era só para dormir! Mesmo que fossem apenas algumas horinhas, já que ela pedia o mamá duas vezes por noite e eu custava para pegar no sono novamente. Era um inferno... Ou o purgatório, para quitar dívidas antigas e expiar culpas recentes...
Até que chegamos ao Brasil, para passar quatro semanas de férias, e me deparei com os altos e pesados portões do Paraíso, que estiveram cerrados para mim por tanto tempo e que finalmente me abriram uma brecha para entrar! SIM, mães de todas as religiões e nacionalidades do século XXI: a terra que nos prometeram ainda na concepção de nossos filhos existe! E ela se chama a casa dos avós e dos tios (sem crianças), loucos para brincar, cuidar, alimentar, dar banho, vestir, pentear o cabelo e encher de carinho nossos rebentos! Enquanto podíamos colocar o banho em dia, ir no salão, fazer os pés.
Sei que vai ser uma estada breve e que logo retomaremos nossas rotinas purgativas, mas, por enquanto, estamos as duas felizes no meio da vovó, do vovó, da pili, dos cacás, da dinda, do beto, do auau, do miau...