Não é um pássaro nem um avião. Também não é o Homem de Aço do planeta Krypton.
É simplesmente o Kick-Ass, um adolescente mediano dos Estados Unidos que não tem poderes ou talentos especiais, nem popularidade na escola ou uma queda pela chefe das cheerleaders do time de futebol local. Mas Dave Lizewski é o estereótipo do looser na cultura norte-americana, apenas existindo despercebidamente no mundo. Até que um dia, inspirado pelos gibis, ele decide virar super-herói, compra uma fantasia pela Internet, sai às ruas com dois bastões ninjas e as melhores intenções para fazer o bem e acaba como uma sensação no YouTube, tendo seu vídeo como um dos mais acessados do site.
Onze anos após “Beleza Americana”, dirigido pelo inglês Sam Mendes, seu conterrâneo Matthew Vaughn faz nova análise do american way of life na forma de 24 quadros por segundo. O filme “Kick-Ass” é realmente um pontapé no traseiro dos americanos; um soco no estômago dado por fotogramas em movimento que mostram a realidade ocidental do século XXI, na qual jovens sonham em ser “celebridades” como Paris Hilton e a web seja um poderoso meio de difusão de notícias e uma vitrine instantânea para os famintos por 15 minutos de fama.
Ironicamente (ou não), a estória desse ordinário super-herói é um sucesso nos dois lados do norte do Oceano Atlântico, tendo arrecadado quase 20 milhões de dólares no primeiro final de semana de lançamento.
Pessoalmente, fiquei chocada com as cenas de violência envolvendo uma menina de uns 12 anos que pede um canivete suíço de aniversário e usa armas de fogo contra os membros de um grupo do crime organizado como se estivesse jogando Dead Space (um videogame sangrento) em primeira pessoa.
Mas, provavelmente, esse sentimento é apenas causado pela ingenuidade de uma filha da classe média gaúcha, que frequentou colégio particular e só ouviu falar em guerras entre gangues rivais e execuções sumárias nas favelas do país pelos noticiários da TV.
No entanto, como mãe de uma menina recém chegada ao mundo, é difícil de acreditar que esta obra de ficção seja, de fato, um recorte da vida real; que o planeta Terra tenha se tornado um lugar inóspito para viver e criar minha filha; que eu tenha permanecido cega e indiferente a esses problemas sociais por tanto tempo. Por isso, prefiro adicionar otimismo à ignorância e esperar por críticas mais positivas nas telas de cinema.
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