quarta-feira, 23 de junho de 2010

The grass is always greener on the other side of the fence

Não é à toa que a grama é sempre mais verde do outro lado da cerca.


Esta é a cor da inveja, dos olhos do monstro que atormentava o ciumento Othello de Shakespeare e da serpente que tentou o primeiro casal bíblico do Paraíso. Esta parece ser a única frequência visível do espectro eletromagnético refletida pelos corpos dos que cobiçam o que não possuem. Este é o pecado que mais acomete e comete a humanidade.

Na faculdade de comunicação, uma das minhas colegas levava uma vida normal, sem incitar a inveja de ninguém. Apesar de bonita e inteligente, não tinha namorado fixo nem um emprego bem-remunerado, mas vivia de maneira independente na capital e dirigia o carro próprio. Então um dia, ela conseguiu uma oportunidade na Europa, conheceu o futuro marido, casou pouco tempo depois e hoje vive no exterior.

Foi quando o meu sonolento monstro de olhos verdes acordou...

Não temos mais nenhum contato, mas ainda procuro notícias e fotos dela no FaceBook.
E por que? Posso não ter tudo o que quero, mas tenho mais que a maioria das pessoas: um marido que me ama tanto que foi contra a família e as tradições para se casar comigo; que deixou a terra natal para começar nossa vida a três num país estranho; que me ouve insultar a mãe e o pai e, ao final do dia, ainda me abraça na cama; que me proporciona uma casa aconchegante, uma comida deliciosa e tempo para curtir a nossa filha.

Então, por que continuo espiando e desejando a grama do vizinho, imaginando como seria minha vida do outro lado da cerca, ao invés de cuidar do meu próprio jardim? Por que desdenho o verde do nosso quintal, acreditando que as folhas ao lado são mais viçosas e isentas de pragas? Por que não consigo simplesmente apreciar os pássaros que vêm catar minhocas no nosso pedaço de terra e não apenas as borboletas na propriedade contígua?

Não sei. Além de míope, devo estar com a visão ofuscada pela intensidade da cor refletida pelo meu corpo invejoso.

Um comentário:

Ana Dos Santos disse...

a Pequena é a prova disso tudo! O amor!