Era uma vez duas brasileiras na Índia, dividindo o mesmo luxuoso apartamento em Anna Nagar. Uma pagava o aluguel, enquanto a outra comprava utensílios para tornar o lugar um verdadeiro palácio de contos de fada e esquecer, por algumas horas, o ambiente quente e fétido do lado de fora.
Numa não tão bela e tórrida manhã de Chennai, uma acordou com um barulho de obras sendo feitas no quarto ao lado pela outra. Essa última tinha problemas mais sérios que o normal com o calor, a água, o cheiro e as pessoas da cidade e queria construir uma redoma de vidro bem fresquinha, perfumada e com água mineral 24 horas por dia.
Por isso, estava instalando um potente ar-condicionado, cedinho naquela manhã.Farta de tanta futilidade, a primeira armou um barraco dentro da cozinha imperial e decidiu que era hora de apreciar lentilhas e abandonar a luxuosa masmorra do terceiro andar.
No entanto, até encontrar uma cabana decente, a tortura psicológica da malvada brasileira em cima da outra quase superou a das histórias da carochinha.
Felizmente, não por um passe de mágica, mas sim com a ajuda do seu homem das cavernas encantado, a brasileira por-muito-tempo-trouxa encontrarou o perfeito BHK (bedroom, hall and kitchen) dos sonhos.
E, apesar de acreditar em finais felizes e na justiça dos milhares de deuses indianos, a brasileira não-mais-idiota bolou um plano de vingança com seus botões. Mesmo sozinha, a brasileira agora-smart levou do apartamento cinco-estrelas absolutamente tudo que havia adquirido para as duas levarem uma vida sossegada. Só deixou para trás... Sujeira... Muita sujeira, pó, fios de cabelo, fósforos usados, cinzas de incenso, além do chuveiro entupido com a água salgada e amarela da Baía de Bengal e um vasamento no vaso sanitário.
E, ainda saboreando a doçura dessa vigança, a mais-nova-malvada brasileira adicionou uma pitada generosa de açúcar nos cantos dos armários e das portas do seu (não-mais) suntuoso aposento na Anna Nagar. Assim, se por demais abatida pelo calor e pela preguiça de se livrar da sujeira da outra, a primeira brasileira não abandonar seu espaço high-tech, em breve terá a companhia de muitos... E muitas... Formigas... Baratas... E, conhecendo bem os cantos e contos de fada na Índia, possivelmente ratos.
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