quinta-feira, 15 de abril de 2010

Se a mãe está feliz...

Na antiguidade, era apenas um vício, uma transgressão na conduta humana. Durante os séculos IV e V, entrou para a lista dos sete pecados capitais do cristianismo, vindo logo após a luxúria na ordem crescente de gravidade.
Atualmente, deixou de ser apenas uma questão religiosa para se tornar uma preocupação mundial quando o assunto é saúde (ou pelo menos a sua consequência mais visível, a obesidade).

Para mim, a gula é um insaciável desejo pela (boa) comida e bebida.
Uma recompensa para a intercambista brasileira (moradora de uma fazenda alemã afastada de tudo), depois de pedalar quase 12 quilômetros em busca do chocolate mais barato do vilarejo mais próximo. Um prazer saboreado em segredo e solitude na última e erma parada de ônibus antes de chegar à sede de Prinzhöfte e ter que socializá-lo com os demais moradores da propriedade rural.


Assim tem sido minha patológica e pecaminosa relação com a comida: uma espécie de cobiça, um objeto de disputa capaz de me incitar outros dos sete vícios da Igreja Católica como a ira e a inveja. Também sou extremamente mesquinha e prefiro a subtração furtiva à soma generosa. Dividir apenas com a certeza de poder ficar com o maior e melhor bocado.


A temperança parece muito difícil de alcançar e a redenção, impossível. E só não garanti minha passagem definitiva para o Inferno, graças à incompetência dos fabricantes de leite em pó para crianças. Ainda não acabei com o alimento da minha filha (que não está sendo amamentada por causa do pecado da vaidade, cometido 10 anos atrás), porque os substitutos do leite materno não apeteceram meu paladar.


Mas tenho fé que ela seja a resposta às minhas preces de pôr um fim a essa vida de glutonia e me ensine o prazer de dar e nutrir os outros e não apenas a mim mesma. Por sinal, foi ela que, ainda no meu ventre e miraculosamente, diminuiu meu desejo por doces.


No entanto, até que a próxima lição seja dada, vou vivendo (e comendo) em pecado, pois uma coisa o pai da minha filha já aprendeu, para amenizar as crises do nosso casamento: se a mãe está feliz (e satisfeita), toda a família fica feliz!

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