quinta-feira, 1 de abril de 2010

Perdida nas ruas de Bangalore

Desde 96, quando morei no exterior pela primeira vez, tinha aprendido que, para conhecer um lugar a fundo e de fato, era preciso se perder primeiro.



Por isso, nos meus finais de semana, eu me perdia nas ruas de Bangalore. Eu saía da sede da FSL de manhã cedo e caminhava sem rumo e por horas, apenas com uma garrafa de água e o mapa da cidade: me perdendo, me achando e me perdendo novamente, até voltar, no fim da tarde, ao ponto que tinha começado.


Naquelas primeiras semanas, eu estava perdidamente apaixonada pela Índia: pelo choque cultural de cores e sabores, pelas vacas sagradas e pelos sáris mundanos e, principalmente, por aquelas figuras exóticas de turbantes que se reuniam num templo perto da organização.

Aqueles eram Sikhs - seguidores de uma religião pouco conhecida pela maioria dos brasileiros - buscando conforto espiritual na casa de Deus, o Gurudwara. Eles são mais de 25 milhões fiéis espalhados pelo mundo, mas representam uma pequena comunidade em Karnataka, longe do seu estado indiano de origem (Punjab); são uma minoria de apenas 2%, num país predominantemente hindu.

Eles acreditam em reencarnação e num único e onipresente criador; e são uma mistura recente (a religião foi criada no século 15, a partir dos ensinamentos do Guru Nanak) de partes do hinduísmo e do islamismo.

O cabelo (kēs) é considerado sagrado e permanece coberto e fora do alcance das tesouras desde o nascimento. Por isso, a profusão de turbantes e véus e a escolha do pente (kaṅghā) como o segundo dos 5 Ks usados pelos homens dessa religião como acessórios da fé. Os demais Ks são o kaṛā (uma pulseira de metal), o kirpān (uma pequena espada ceremonial) e o kacchā (uma roupa de baixo especial).


Assim como os cristãos, eles também são batizados, mas proibidos de se divorciarem e têm seus corpos cremados após a morte.


Era muita informação para ser absorvida numa única visita. Precisaria de muitos outros finais de semana, dentro e fora do Gurudwara, para entender um pouco mais sobre o sikhismo. E o que me incitava a continuar com minhas buscas exploratórias era a esperaça de rever um Sikh em particular.


Aconteceu por acaso, numa das primeiras caminhadas pelas ruas de Bangalore. Um rapaz todo de branco e turbante passou por mim de bicicleta, me olhando diretamente nos olhos. Sorri e ele fez um retorno e passou, novamente, por mim, também sorrindo. Dessa vez, seguiu na bicicleta... até desaparecer, se perder em alguma rua de Bangalore.


E por mais interessada que estivesse em saber mais sobre a religião, eu queria mesmo era ver o que se escondia por baixo daquele misterioso turbante. E eu tinha certeza que o destino também sorriria pra mim e me daria tal oportunidade. Mais cedo ou mais tarde.

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