Ainda na adolescência, tive uma colega no cursinho de inglês que uma vez me disse que não saía de casa com lingerie amassada, porque queria estar “apresentável” na eventualidade de um acidente e na possibilidade de ir parar na emergência de um hospital. Não que eu acredite que algum plantonista vá prestar atenção nos vincos do sutiã de uma paciente ensangüentada ou com fratura exposta, mas tenho reconsiderado o conselho por causa de um incentivo de dois metros que encontrei no vilarejo onde moramos.
Foi por acaso, numa visita com hora marcada à clínica médica local, para vacinar minha filha.
Já tínhamos estado ali duas outras vezes, quando uma doença infantil (praticamente erradicada no resto do mundo) nos foi transmitida ainda na Índia pelo meu sogro, que apresentou uma tosse persistente e cheia de catarro por várias semanas até contagiar todos os membros da família. Deixamos o ambiente infectado tarde demais e desembarcamos em Londres já carregando a bactéria pertussis.
E, apesar da doença ter mudado a cor do cocô da minha filha (um sinal de infecção) e afetado a sua ingestão de leite (pois a tosse em excesso acabou machucando sua garganta, fazendo-a perder peso), o clínico geral que a examinou permaneceu incrédulo diante da nossa suspeita de coqueluche e apenas nos receitou paracetamol para aliviar os sintomas.
Difícil esperar outra coisa de um médico tão frio quanto as duas manhãs de março, nas quais conseguimos agendar as consultas. Dr. Stubbings parecia o Inverno em pessoa, ao responder as aflitivas dúvidas de pais de primeira viagem com monossílabos. Ele sequer se levantou para nos cumprimentar e se referia à minha filha como “the little one”.
Contrário aos costumes ingleses, a voluntária de plantão me recebeu com um caloroso sorriso e me deu boas-vindas quando me apresentei e disse que recém tínhamos chegado ao país e precisávamos colocar em dia as vacinas da nossa menina. Lucy me perguntou se faríamos isso com o médico ou a enfermeira e manifestei minha completa indiferença. Tudo o que queríamos era imunizá-la contra outras doenças infantis. A voluntária, então, disse que iria se informar sobre o meu agendamento e desapareceu na ala restrita aos funcionários.
Quando retornou, estava acompanhada por ele... Dois metros da mais pura beleza caucasiana, adicionada àquela inflexão tão particular e charmosa dos ingleses. E como se os atributos físicos e linguísticos já não fossem suficientes, o jovem médico ainda era simpático e do tipo tátil. Não estou bem certa da minha linguagem corporal durante a conversa, mas acredito que sorri involuntariamente cada vez que ele tocava de leve na minha mão ou joelho direito. O que tenho certeza é do ciúmes que a situação causou no meu marido, que estava o tempo todo “presente” na sala e não escondeu o quão aborrecido ele ficou com o flerte da esposa. Na verdade, ter sido o centro das atenções de um completo estranho, por brevíssimos minutos, fez com que eu me interessasse por mim mesma novamente; que eu me sentisse merecedora de cuidados tanto quanto minha filha. E, de agora em diante, toda vez que tiver que levá-la ao Centro Médico de Gosford Hill, não saio de casa com lingerie amassada e sem um pouco de maquiagem.
Um comentário:
very good!
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