Adoro comer. E adoro boa comida. Mas sou um desastre na cozinha e minha reputação de cozinheira inapta já atravessou continentes e se espalhou pela capital indiana, quando tive a infeliz ideia de surpreender meus sogros e fazer pasta al dente “duro”. Eles podem não ser italianos, mas também não são burros!
E minha inabilidade culinária não termina (ou começa) aí. Sou incapaz de fazer um ovo mexido decente ou um arroz que não fique empapado. Meus pães e bolos saem do forno, inevitavelmente, queimados por fora e ainda crus por dentro, e já errei, algumas vezes, na medida de leite em pó com H2O para a mamada da minha filha, que acaba por ter dolorosos dias de constipação.
Sou um Jamie Oliver sem talento. E sempre que minha criatividade é mais forte que minha razão, o resultado de horas amassando, sovando, picando ou misturando vai parar na lata de lixo, sem escalas.
Infelizmente, os problemas parecem reincidir na completa falta de conhecimentos básicos nesta arte, como o uso adequado de especiarias, principalmente o sal. Minha comida ou termina ficando mais salgada que água do mar ou mais insossa que papinha de bebê.
Isso deve ser um traço de família, um cromossoma ligado ao X materno, porque os dons culinários da minha mãe levam a crer que ela iniciou a recente linhagem de ineptas na cozinha. Este é, provavelmente, o real motivo (ou motivação!) pelo qual me tornei vegetariana aos 16. Não aguentava mais o gosto emborrachado dos bifes que ela fazia e congelava para toda a semana...
Ou isso ou algum tipo de ritual inconsciente de passagem para meu reencontro cármico com a Índia, anos mais tarde. Foi naquele país, aliás, que achei a principal vítima para meus desastres gastro-vômicos: o homem que viria a ser meu marido e pai da minha filha.
Mas começamos nosso relacionamento lado a lado, na apertada cozinha do nosso pequeníssimo apartamento em Bangalore; tentando fazer juntos as mais simples receitas da sua terra natal. Na época, acreditei que bastariam algumas tentativas para aprender, com ele, a usar as masalas indianas e melhorar minha aptidão culinária. Nunca deu muito certo, mas ele sempre comeu o que eu colocava no prato.
O que deu certo, no entanto, foi outra mistura: a dos nossos genes, resultando numa linda e singular sikh-brasileira. Foi ela quem passou a ser minha motivação para não desistir do avental e das panelas, enquanto ele continua fazendo o sacrifício diário de aplacar sua fome com a minha comida.
Tudo por um bem maior. Talvez quando nossa filha chegar à idade de desenvolver seu paladar, meus desastres estejam mais comestíveis; e o sal, na medida certa.
2 comentários:
Acho que tu não deve desistir das panelas MESMO! Só de lembrar daquele teu pastelão de espinafre, me dá água na boca... Beijos!
a culinária vai evoluindo com a alimentação dos filhos, ou seja, tempo!
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