sexta-feira, 30 de abril de 2010

O primeiro tombo a mãe nunca esquece

Aconteceu exatamente como minha mãe tinha tantas vezes me prevenido que aconteceria. "Cuidado, criança cega a gente", ela me alertou diariamente por quase 6 meses... Mas alguém, realmente, dá ouvidos pra os conselhos alheios?

Pois naquela manhã igual a qualquer outra, lá estava eu na cozinha, preparando uma torrada e fazendo uma pausa do filme russo no qual trabalhava, enquanto minha filha havia permanecido no quarto, sobre a nossa cama e cercada de travesseiros. Uma prática que já tinha se tornado um hábito perigoso.
Ela começou, então, a choramingar por atenção, mas eu resolvi não encurtar meu devido e merecido intervalo e continuei virando a fatia de pão integral na frigideira anti-aderente.

Subitamente, um ruído abafado no andar de cima.
Em seguida, um choro agudo ecoando pela casa. E uma violenta descarga de adrenalina na minha corrente sanguínea, aumentando a frequência dos meus batimentos cardíacos a ponto de eu sentir meu coração na boca, enquanto subia as escadas e encontrava minha filha de bruços no chão, com o rosto enterrado no carpete.
Acho que ela só chorou daquele jeito quando passou por outro susto, no dia em que nasceu e foi arrancada do meu útero. E devia estar igualmente roxa ao redor das narinas... Uma cena terrível para qualquer pai! Fiquei apavorada imaginando se ela teria quebrado o nariz durante a queda e apalpei seus braços e pernas à procura de alguma fratura.

Nada. Só a pesada culpa por não ter escutado uma mãe muito mais experiente que eu.

Mas, na verdade, não é bem a criança que cega a gente. Nós é que acreditamos conhecer aquele serzinho vivo melhor que nós mesmos e acabamos por nos sentir excessivamente cofiantes e não percebemos o quão rapidamente ele se desenvolve. Até que, de um dia para o outro, BUM, acordamos de nossa ignorância.

Mas aprendi minha lição da maneira mais traumática possível e, desse episódio, espero que minha filha seja a única a esquecer seu primeiro tombo.

Um comentário:

Ana Dos Santos disse...

aconteceu enquanto eu preparava a última mamadeira do dia...exausta...e o gui no mesmo lugar: na ilha de travesseiros! só que eu gritei tanto, mais que ele, que ele parou de chorar e ficou quietinho me olhando...nunca vou esquecer!